O poço dos Cortiços

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Gazeta das Caldas

Numa das minhas habituais caminhadas matinais, numa manhã fresca e ventosa de finais de Novembro, pelas áreas periféricas do Chão da Parada, deparei-me com as ruínas do antigo poço dos Casais de Baixo (os Casais Morgados dividiam-se na altura em Casais de Baixo e Casais de Cima), no estado que as fotos documentam.
A data da construção é bem visível: 1950
. Já no que concerne a entidade responsável pela mesma, as dúvidas subsistem. Para um actual morador dos Casais de Baixo, a sigla C.M.C. significa Comissão dos Casais Morgados. Para um outro residente, durante longos anos com funções administrativas no município das Caldas, as iniciais significam: Câmara Municipal das Caldas (na altura, segundo o mesmo, era hábito omitir-se a palavra Rainha, por uma qualquer razão, que desconhece).
No que me diz respeito, e se me é permitido, vou pela segunda opção, pois, no já distante ano de 1950, a palavra Comissão, não era de uso tão generalizado, como no pós 25 de Abril de 1974, em que passou a ser usada por tudo o que era organização local.
Não foi no entanto para saber quem fez o poço dos cortiços, que até tinha direito a uma cobertura e bomba manual de extracção da água, mas sobretudo para que meditemos um pouco, sobre a dura vida das gentes das aldeias do nosso concelho, sem condições mínimas de habitabilidade, que decidi publicar estas fotos.
Até não há muito tempo, as mulheres da nossa terra, na ausência de água fornecida pela Câmara Municipal, utilizavam estes poços comuns e as diversas valas, e outras correntes de água que atravessavam os nossos terrenos de agricultura mini-fundiária para necessidades tão básicas, como lavar a roupa ou lavar a carne do porco acabado de matar, e que depois iria ser guardada numa salgadeira durante doze meses para consumo da família, ou fumada na chaminé e transformada em deliciosos enchidos. Raras as casas que possuíam o seu próprio poço de água potável, que normalmente acabava também por ser utilizado gratuitamente por todos, no que ao fornecimento da água potável dizia respeito.
Ainda que as ruínas, não sejam hoje mais que isso, ruinas, devida à incúria e ao desinteresse das entidades responsáveis, achamos que seria uma mais-valia para a nossa aldeia e para os habitantes , e também para o largo número de estrangeiros que elegeram os Casais Morgados para moradia permanente nestes últimos anos, antes que tudo acabe por ser completamente engolido pela vegatação, e ou, o que resta das paredes do poço não resista à passagem dos anos e acabe por ruir completamente.

J. L. Reboleira Alexandre

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