Celeste Afonso
diretora cultural executiva
No ano em que assinalamos os 20 anos da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO (Paris, 2023), vale a pena recordar que o PCI é o principal gerador da diversidade cultural e garante do desenvolvimento sustentável.
De acordo com a Convenção, entende-se por PCI «(…) as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural (…) constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interação com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana» (Artigo 2º).
Na nossa região, existem várias manifestações do PCI que são expressões vivas da relação entre as comunidades locais e o meio ambiente, demonstrando práticas tradicionais que promovem a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. A título exemplificativo, apontamos algumas:
Os rituais ligados aos ciclos da natureza, como As Maias e o Santo Antão, em Óbidos, e as práticas ligadas ao mar, como a pesca tradicional e a seca do peixe, na Nazaré, ou a apanha de bivalves na Lagoa de Óbidos, estão culturalmente enraizados e estão intimamente ligadas à sustentabilidade ambiental.
A dimensão religiosa e ritualista está presente em manifestações culturais muito ricas, como nas Festas do Homem do Mar, na Nazaré, na Festa da Nossa Senhora da Boa Viagem, em Peniche, ou nas Loas a Nossa Senhora do Bom Sucesso.
O artesanato local (a cestaria, a tecelagem e a olaria) utiliza materiais provenientes da natureza e segue técnicas ancestrais que valorizam a utilização sustentável dos recursos naturais e contribuem para a preservação das técnicas tradicionais, transmitindo conhecimentos ecológicos de geração em geração.
Se atentarmos na nossa riqueza patrimonial, percebemos que as comunidades locais têm desenvolvido uma relação harmoniosa e sustentável com o meio ambiente ao longo dos tempos, preservando e transmitindo esses conhecimentos e práticas para as gerações futuras. No entanto, lamentavelmente, o registo de bens desta região no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial é quase nulo! ■

































