As mais valiosas características da cidade de Caldas da Rainha são também a razão da sua estagnação. Aquilo que é referido até à exaustão como sendo as nossas maiores fontes de atracção, tornou-se uma arma de dois gumes, estando, por via de um certo comodismo e alguma procrastinação, a impedir um verdadeiro desenvolvimento. Encostámo-nos ao passado e vivemos no passado.
Se não, vejamos três exemplos.
Dizemos de nós próprios que somos a capital da cerâmica mas não temos um Museu Nacional da Cerâmica, nem no título, nem na atribuição oficial nem no seu conteúdo e espólio. Encostamo-nos à obra de um artista do século 19, Bordalo Pinheiro, e daí não saímos. Nunca foram criadas condições para passarmos da “Cidade das Faianças de Bordallo Pinheiro” para a “Cidade da Cerâmica”, onde esta e os seus novos autores são permanentemente divulgados e actualizados. A herança de Bordalo Pinheiro é pesada mas é também uma óptima almofada de encosto.
Valorizamos, e bem, o facto de termos um jardim urbano com uma dimensão inusitada na proporção da sua área com a área total urbana.
E contudo refugiamo-nos numa obra definitiva do final do século 19 para estagnarmos na criação de áreas verdes.
Talvez se possa argumentar que temos uma zona verde de grandes dimensões tendo em conta a área urbana ou que somos uma cidade de província onde o campo está ali logo ao fim da estrada. Mas a verdade é que esse argumento não é mais que uma almofada onde nos encostámos desde há mais de um século e particularmente nas últimas décadas quando novas zonas urbanas de maior densidade foram construídas. Permitimos que a cidade se estendesse para norte sem que tivessem sido criados espaços verdes de suporte que permitiria manter a qualidade de vida dos seus habitantes. Bairros como a Quinta da Cutileira ou a Cidade Nova nunca deveriam ter sido edificados sem a obrigatoriedade de criação de espaços verdes. E sejamos directos, espaços verdes são jardins arborizados com sombras e bancos, canteiros e carreiros. Não são rotunda relvadas nem a erva que cresce entre os separadores da circular. Um parque e uma mata que nem eram património nem da gestão municipal até há bem pouco tempo, serviu de desculpa para que o município não tivesse criado um único espaço verde em toda a sua existência e até há bem pouco tempo.
Finalmente o Hospital Termal. A sua paralisação tem servido de desculpa para não se fazer nada em relação ao mercado de bem-estar, um circuito não apenas da área da saúde mas sobretudo turístico, que é contemporâneo e verdadeiramente viável no seculo 21. Ir às termas é um conceito que valeu até ao início dos anos 70 do século 20 mas não está nos hábitos das actuais gerações. Estas privilegiam espaços onde podem encontrar em simultâneo, alojamento, spa com piscina, massagens e sauna; gastronomia, roteiros de visita. Nada disto, deste circuito contemporâneos das águas, está dependente de um hospital termal. Na verdade, as que são consideradas as dez principais termas do país não possuem hospitais termais mas bons hotéis com spa. Mais uma vez, a retomada do hospital está a servir à décadas como almofada para a procrastinação e falta de ideias e acções.
Caldas tem história, tem alojamentos, tem indústria de águas, tem indústria de cosmética, tem gastronomia, tem roteiros. Tem tudo para criar um cluster do bem-estar.
Já perdemos muito tempo a olhar e a viver no passado. Voltarei a este tema com propostas concretas para olharmos para o futuro.
Paulo Caiado
prcaiado@gmail.com
































