Depois da meia desilusão que constituiu a eliminação de Portugal por nuestros hermanos o que mais saltou à vista na hora da derrota e depois de tudo o que já foi dito, é que, independentemente das suas invulgares capacidades técnicas, o nosso jovem capitão denunciou igualmente uma manifesta ausência duma estrutura mental forte, a qual ficou ainda mais à vista de todos na altura da derrota. É nesses momentos que se definem os chefes. Nós que já cá estávamos em 1966, ainda nos lembramos que a nossa maior estrela da altura, o grande Eusébio, nunca foi o capitão em campo . Os dirigentes da equipa lá teriam as suas razões!
Mas por aqui também se vibra com o Mundial, só que Montreal é uma cidade onde o deporto das multidões é o hóquei sobre gelo, entre Outubro e fins de Maio, e apenas nos últimos anos e depois da vulgarização da televisão por satélite, o soccer (detestamos o termo, mas até na África do Sul se usa…) começou a ser um pouco mais conhecido. A pouco e pouco este desporto tornou-se mais popular e hoje nas ruas e nas vielas de todas as cidades, os miúdos já se divertem mais com uma bola redonda , do que com com a típica bola oval de rugby do futebol americano e em doses similares, com uma rodela que tentam empurrar para a baliza adversária com sticks enormes, se comparados com aqueles que se usam no hóquei em patins. Hoje já se pode afirmar que não há canadiano que não siga a par e passo as proezas de Messi, Kaka, do nosso Ronaldo ou há uns anos de Figo ou Zidane, os mais conhecidos.
O que me levou no entanto a enviar esta crónica, é a particularidade da forma como os habitantes festejam as vitórias dos diversos participantes. Se em Portugal em caso de derrota das nossas cores, há motivo para depressão global, aqui isso não se verifica, desde já pela ausência da selecção canadiana, mas sobretudo pelas múltiplas origens dos seus habitantes. Ainda há dias num dos vários restaurantes de cozinha francesa, vizinhos do nosso escritório, trocávamos ideias com uma simpática argelina, ex-colega de trabalho e amiga de minha esposa, que, como boa conhecedora insistia no facto de que o país dela (a Argélia claro…) depois que Rabah Madjer (autêntico Deus para os argelinos … e para os portistas afinal) pendurou as botas, nunca mais voltaram a ter uma presença digna numa fase final do Mundial. Este ano já previam uma passagem sem glória, que afinal se confirmou. Até me mencionou que no seu actual local de trabalho, no departamento de investigação e pesquisa da farmaceutica Novartis, os patrões tinham autorizado a instalação de um aparelho de televisão para que todos pudessem seguir os jogos e resultdos em directo. É claro que a Novartis é uma multinacional suíça!
Mas voltando ao carácter multicultural de qualquer grande cidade canadiana, e Montreal não foge à regra, quaisquer que sejam os resultados preliminares ou o vencedor da final dum Mundial, teremos sempre direito a manifestações de regozijo, ampliadas até pela distância que nos separa a todos, do país onde nascemos ou estamos ligados por via dos nossos progenitores, ou outras. Desta vez não serão os italianos nem os franceses, e menciono estes dois pois representam as duas maiores comunidades de imigrantes e seus descendentes na cidade, e nota-se já a falta das respectivas bandeiras tricolores, nas janelas dos automóveis e das residências. Mas ainda temos os argentinos e claro os nossos irmãos brasileiros (muitos e muito expressivos) sempre prontos a festejarem mais um golo ou mais uma vitória numa qualquer zona da cidade, por vezes até com pequenas provocações (a polícia nesse caso andará por perto) com os festejos a estenderem-se até ao campo, zona, do inimigo.
Para dar um exemplo de como estas manifestaçôes são exuberantes, no Mundial de 2006, e como o Canadá festeja o seu dia nacional a 1 de Julho, sucedeu que, enquanto assistia aqui bem ao lado do escritório às festividades dos franceses, com a Rue St Denis (uma das mais importantes artérias comerciais da cidade, com inúmeros cafés, restaurantes e boutiques) fechada ao tráfego automóvel, encetei um pequeno diálogo com um dos membros das forças da ordem que entre vivas a Zidane e companhia, lá me ia contando que a multidão era maior aqui, que no local onde se festejava oficialmente mais um aniversário deste grande país.
Podemos assim antecipadamente garantir que, qualquer que seja o resultado final de mais um Campeonato do Mundo de Futebol (perdão Soccer…) sempre e em qualquer circunstância, os automóveis apitarão e as janelas ostentarão as bandeiras do vencedor. E os vencidos acabarão afinal por, de certa forma e por efeito de contágio, partilharem um pouco da alegria dos vencedores!
J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca
































