Nuno Francisco
Diretor do Jornal do Fundão
A longevidade de certas instituições é, por vezes, a única prova que necessitamos para atestar a sua relevância. Quando falamos de um jornal, então, esta asserção ganha outra dimensão. Porque os jornais regionais vivem nas e para as comunidades. Brotam de um chão comum, fortificam-se no compromisso e ganham asas na confiança que muitas gerações de leitores neles depositam.
E é precisamente de confiança que devemos falar. Da confiança de tantas e de tantos que trouxeram a Gazeta das Caldas até este ponto. Felizmente para este histórico semanário – e infelizmente para muitos outros que não o alcançaram – entrou no clube restrito dos jornais centenários do país. É um estatuto que pode ostentar com orgulho, pois é sinónimo de que conseguiu manter um compromisso inquebrável com a sua comunidade, que se manteve relevante e que se prepara para continuar a levar avante os elevados valores de proximidade, que são muito mais do que fazer dos jornais meros repositórios da espuma dos dias.
Não nos iludamos, porém: As tormentas estão aí e não há jornal que não balance em vagas incertas. Será demasiadamente exaustivo – e até aborrecido para o leitor – voltar a elencar todas as ameaças com que a imprensa está confrontada. Destas, ressalvo apenas duas: a migração para o digital, que é um caminho inevitável e que se vem percorrendo a custo. A custo, não porque tomemos as edições em papel como um dogma, mas porque essa migração acarreta a desestruturação do tradicional modelo de negócio que sustentava a imprensa livre. A maioria dos jornais, por via da expansão digital, até tem mais leitores atentos aos seus conteúdos, mas essa mais-valia não se traduz em mais receitas publicitárias; muito pelo contrário. A outra é a profusão de sites de “informação”, alguns deles alegadamente “jornalísticos” que pululam no universo digital e que não passam de ameaças mais ou menos descaradas ao rigor e à verdade, ao contraditório e à prevalência do facto sobre o boato e a mentira.
Mas todos, mais cedo ou mais tarde, necessitaremos do conforto do rigor, da credibilidade e da seriedade no tratamento da informação. No fundo, do jornalismo. E será essa credibilidade que associamos a este centenário jornal que o continuará a mover por entre as gerações. Nesse tal mar revoltoso onde navegamos, há faróis e há portos de abrigo. E as comunidades sabem quais são e onde estão. É a confiança que trouxe a Gazeta das Caldas até aos cem aos e será a confiança que tantos continuam a depositar nela que a continuará a fazer navegar. No papel ou num qualquer ecrã.
Do diretor de um jornal que está prestes a cumprir 80 anos, um forte e fraterno abraço a este irmão mais velho.
Vemo-nos no futuro.

































