Joana Beato Ribeiro
Arquivista
Na última crónica, mencionei a inauguração do Lactário-Creche Rainha D. Leonor, a 18 de novembro de 1925, no Hospital Termal. Iniciativa divulgada e engrandecida pela recentíssima Gazeta das Caldas e que integrou as comemorações do IV centenário da morte da rainha D. Leonor (1458-1525), promovidas pela Comissão de Iniciativa local.
O Lactário foi coroado de êxito e auxílio, tendo inicialmente 102 sócios protetores. Na sua sede tinha 10 berços destinados a crianças pobres. Aí ou nas suas casas, as mães recebiam medicação, vestuário, aconselhamento sobre higiene infantil e acompanhamento médico.
Dividia-se o serviço entre interno e externo, o primeiro prestado na sede, em que se incluíam os banhos de luz com um aparelho de raios ultravioletas. E o segundo fora dela, por exemplo, através das colónias de banhos em São Martinho do Porto ou na Foz do Arelho. Todos os frequentadores da instituição recebiam uma lembrança no Natal, na Páscoa e no verão.
Até 1935, a atividade do Lactário foi intensa, associando à sua missão assistencial a vontade de possuir uma sede própria. Em dez anos de existência, este distribuiu 212 mil litros de leites e auxiliou 300 crianças, acrescentando-se 130 internadas. A sua nova sede foi inaugurada precisamente nesse ano, após várias angariações de fundos, num terreno cedido pela Misericórdia local ao Lactário. Assim se explica que, na década de 1950, quando este encerra, a sede seja integrada na Misericórdia, que aí criou o Jardim de Infância Dr. Leonel Sotto Mayor.
Ao longo destes anos, foi fundamental o papel das senhoras visitadoras, a maioria caldenses, que, apoiadas pelas funcionárias e escalonadas na Gazeta, voluntariamente, eram responsáveis pelo cadastro das crianças e mães pobres, garantindo a vigia diária e pesagem semanal das crianças, assim como o acompanhamento materno com conselhos de higiene infantil.
Esta instituição, acompanhada do Hospício Municipal ou Casa de Assistência, do Patronato promovido pela família Martins Pereira e da Tutoria da Infância da Comarca, garantia a assistência infantil nas Caldas da Rainha, onde, em 1927, segundo escreveu Fernando da Silva Correia na Gazeta, morria uma criança a cada 2 dias.
Além das publicações deste médico sobre puericultura e com vista à educação materna, hoje é possível conhecer o funcionamento desta instituição através do seu arquivo pessoal e familiar (PH – Grupo de Estudos), assim como do arquivo da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha. O Lactário é ainda desconhecido dos caldenses, pelo que, aqueles que tiverem curiosidade, devem ficar atentos à programação cultural da cidade no próximo mês de novembro.

































