O epílogo do monstro

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José Luiz de Almeida Silva

José Luiz Almeida Silva

 

Imperceptivelmente os norte-americanos foram deixando engordar o monstro, desvalorizando os fenómenos ao longo de quatro anos de mandato, como as mentiras, as ameaças, as atitudes incompreensíveis quer em relação a países amigos e aliados quer a países “complicados” como a Coreia do Norte ou a Arábia Saudita, por exemplo.
As decisões mais controversas eram consideradas com ironia e gozo pela elite local e internacional, apesar das inconfidências que periodicamente eram desvendadas por fontes da Casa Branca, que “descobriam” a forma anárquica como funcionava a mais alta administração daquele país.
Nas vésperas das eleições de novembro o monstro ameaçava que só aceitaria com o resultado a vitória, pois a derrota seria objetivamente fruto do roubo ou manipulação de votos. Contados os votos, o monstro renovou as ameaças garantindo que havia vencido, independentemente das contagens irem no sentido contrário.
Irremediavelmente perdido, no dia em que se preparava a validação das votações num ato simbólico, mas geralmente incontroverso, mobiliza as suas ignaras e estupidificadas gentes, para impedir o ato e invadir o mais alto órgão do sistema democrático norte-americano – o Capitólio.
A cena é bem característica das ditas repúblicas das bananas ou de uma série cómica de Hollywood, só que era bem verdadeira e transmitida em direto, para todo o mundo, pelas mesmas redes sociais que antes serviram para acompanhar acriticamente, em muitos casos, o crescer do monstro.
Portugal, uma democracia com menos de meio século, deve aprender como não se pode brincar às liberdades, aos direitos e aos deveres da República e dos seus cidadãos. ■

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