O documentário do caldense Miguel Costa

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A RTP2 apresentou pelas 21 horas no passado Domingo, dia 18 de Novembro, um documentário notável sobre a ilustre pianista Olga Prats da autoria do realizador caldense Miguel Costa.
Olga Prats Pianista e professora, que nasceu em 1938, foi sempre uma admiradora da obra dos compositores portugueses entre eles Fernando Lopes-Graça e Constança Capdeville e Vitorino de Almeida.
Ao longo da sua extensa carreira, para além dos inúmeros concertos, optou quase sempre por tocar em conjunto com outros músicos. Adepta da música de câmara em Portugal, criou com a violetista Anabela Chaves em 1970 um duo que durante 10 anos desenvolveu assinalável êxito. Em 1980, fundou o Opus Ensemble, que se tornaria o mais importante e internacional grupo de música de câmara português.
Seguimos com redobrada atenção o desenrolar deste trabalho especial onde durante uma hora, em  horário nobre, a RTP2 nos mostrou a vida e a obra de Olga Prats, uma mais importantes pianistas Portuguesas de todos os tempos.
Nesta longa metragem, o realizador Miguel Costa consegue uma síntese notável, onde, a pretexto de duas entrevistas realizadas no Teatro São Luiz e no Museu Nacional da Musica Portuguesa, que constituem as cenas centrais do documentário, mergulha nos arquivos da televisão, fundindo imagens históricas de notáveis compositores Portugueses e amigos de Olga Prats, nos campos da musica, do teatro, da declamação, para as enquadrar numa viagem retrospectiva destas artes dos séculos XX e XXI.
Com rara sensibilidade, encenando as intervenções da pianista com memórias pessoais, por vezes intimas, Miguel Costa molda a grande plasticidade de figuras como Vitorino de Almeida e Lopes Graça entre outros, até ao povoar do palco por figuras do teatro, como Maria do Céu Guerra e sobretudo Eunice Muñoz.
Um documentário desta natureza é para um realizador, uma oportunidade especial de – não perdendo de vista a espinha dorsal do documentário que é a vida e a obra de Olga Prats -, conseguir inovar, ultrapassando o ritmo coerente, ordenado e por vezes obrigatoriamente monótono do piano, com a exuberância, a alma e a surpresa sobretudo das imagens colhidas em laboratório que trazem á acção uma força fantástica.
Da carreira da grande pianista, Miguel Costa, consegue durante uma hora colar-nos ao ecrã televisivo numa aventura singular onde cada cena se anima com o traveling que recua no tempo e não hesita em nos mostrar imagens quase impossíveis que cimentam esta odisseia maravilhosa da musica Portuguesa, em vivencias pessoais partilhadas com o espectador que as colhe, contadas na primeira pessoa de cada um dos interlocutores.
Ao terminar este trabalho, o realizador consegue num esforço de grande qualidade técnica e estética, misturar a sonoridade única do piano numa interpretação fabulosa de Olga Prats da musica de “Robert Schumann Cenas infantis” com a teatralidade emprestada á declamação de Eunice Munhoz.
Miguel Costa, jovem realizador com pergaminhos firmados, documentarista, ficcionista com muitos trabalhos televisivos entende, como Gertrude Stein no filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, que ÿþ”A função do artista não é sucumbir ao desesmpero, mas sim, encontrar um antídoto para o vazio da existência”.

António Marques

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