Estamos a vacinar a geração da ternura dos 40. Cada vez mais vacinados, diria mesmo que levar orgulhosamente a vacina ou esperar ansiosamente a data, está entre as trends mais populares no Instagram. Não deveria ter sido a mesma sensação quando em pequenos os nossos pais nos levavam a tomar as gotinhas cor de rosa (vacina contra a poliomielite)?
Os casos de poliomielite diminuíram mais de 99% desde 1988 até 2018, mundialmente, graças à vacina, descoberta nos anos 60. Pois é, mas não havia Istagram.
A poliomielite, causada por um vírus, é uma doença altamente infeciosa aguda e contagiosa que afeta principalmente as crianças abaixo dos 5 anos, ataca o cérebro e a medula espinal e pode causar paralisia irreversível.
Os países mais ricos tiveram acesso rápido à vacina, mas a Ásia e a África continuaram a ser os principais focos infeciosos durante muito tempo.
Atualmente, apenas dois países do mundo estão infetados com o poliovírus: Afeganistão (29 casos em 2020) e Paquistão (58 casos).
Em agosto de 2020, na 70ª sessão do comité regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a África, declara África como um continente livre da poliomielite.
Ainda a 10 de junho foi apresentado pela OMS a estratégia de erradicação da Poliomielite 2022-2026, com a mensagem clara de promessa de um mundo livre de polio.
Mas, enquanto houver polio nem que seja em dois países, o mundo continua em risco, principalmente em países com fracos sistemas de saúde pública.
Segundo a OMS, “alcançar a cobertura universal de saúde é uma prioridade máxima da comunidade da saúde a nível mundial, e a pandemia de covid-19 evidenciou, uma vez mais, a importância do acesso, a preços acessíveis, aos cuidados de saúde de qualidade para todos, onde quer que se encontrem”.
Em 2019 as Filipinas declararam um surto de poliomielite no país. A polio tinha sido erradicada das Filipinas quase há duas décadas. Para conter este surto, foram administradas cerca de 30 milhões de doses da vacina. E recentemente foi declarado o fim do surto, no que foi um esforço conjunto da OMS e da Fundo das Nações Unidas para a Infância, em conjunto com o governo local.
A fundação Rotary Internacional teve um papel relevante nesta luta, em 1979, tendo começado precisamente pelas Filipinas. Em 1985, a Rotary International lança o Pólio Plus, o primeiro e maior esforço coordenado do setor privado em apoio à saúde pública. Foram imunizadas mais de 2,5 bilhões de crianças contra a paralisia infantil em 122 países.
E pergunto, estão os países cientes disto? Que é necessário investir em cuidados de saúde primários em todo o mundo? Que esta pandemia veio ainda evidenciar mais as assimetrias na área da saúde que existem no mundo?
Será que em vez de atacar todo o mundo, se esta pandemia afetasse apenas o continente africado teríamos uma (ou várias) vacinas em menos de um ano?
Numa época em que há o antes de covid (ac), mas ainda não há o depois de Covid (dc) pois ainda vivemos o durante, será que temos os olhos postos só nos países desenvolvidos? Quem vai pagar a vacinação dos países em vias de desenvolvimento?
O mundo parece que respira de alívio e sente esperança com o fogo de artificio em Nova York, a cidade que nunca dorme, e pelo alívio das medidas covid (imaginem eliminar os protocolos rígidos de limpeza ou ir a um restaurante sem restrições) pois atingiu 70% de vacinação de pelo menos a 1ª dose…
Mas não esqueçamos o Brasil, que ultrapassou meio milhão de mortos com a covid-19. Ou aqueles países que nem notificam todos os casos.
Sim, repito ainda estamos ainda no durante. E nada será como antes.
O admirável novo normal
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