Novo hospital do Oeste – A inércia das populações

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Amélia Sá Nogueira
Socióloga e Ceramista

Dos assuntos mais banais aos de interesse nacional as tomadas de decisão política acarretam sempre um conjunto de aspetos que provocam inevitavelmente impacto na vida de indivíduos, grupos e populações. Sendo esta uma verdade de La Palisse olhamos, no contexto atual, com alguma perplexidade para a inércia das populações locais na defesa de assuntos que lhes dizem diretamente respeito. O “Novo Hospital do Oeste”, manifestamente uma necessidade e um desejo há muito debatido, parece não ter agarrado com o mesmo empenho e paixão forças de poder e população. O acesso à saúde, para além de um direito consagrado na constituição portuguesa “todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover”, é também um dos assuntos que de modo direto nos toca a todos. Um serviço público de saúde de qualidade, próximo das populações, com respostas eficazes e profissionais aptos a dar resposta a situações de angústia face à doença ou a acontecimentos mais comuns, é de um valor incalculável.
O envolvimento das populações, manifestando o seu ponto de vista e participando ativamente na defesa dos seus direitos é um dos pilares básicos ao serviço das democracias modernas, entendido, não como uma força contra-poder, mas como um importante apoio na tomada da decisão política do poder central. A atuação de grupo sob a forma de movimento cívico coeso é uma forma da população fazer ouvir a sua voz na luta pela defesa dos seus interesses, funcionando na prática como alavanca para situações onde o diálogo entre forças opostas parece estar num impasse ou mesmo comprometido. Salvo as louváveis exceções, iniciativas de cariz cívico e artigos de opinião mais ou menos técnica, o interesse público da vinda do Novo Hospital do Oeste não foi bandeira suficiente para motivar as populações à ação. Podemos questionar o motivo desta passividade face a uma matéria onde a participação é fundamental para dar corpo a uma necessidade urgente de resposta para a criação de uma estrutura de qualidade no que respeita aos cuidados de saúde no Oeste. Podemos partir para a explicação fundamentada pela fraca consciência coletiva de grupo, mas neste caso concreto, do Novo Hospital do Oeste, este não é um “assunto que não me diz respeito”. A necessidade de reconhecimento de uma liderança de grupo informal, organizada e a ideia muitas vezes associada aos movimentos cívicos de protesto como atos que roçam a desobediência, são igualmente inibidores da participação da população em larga escala.
A inclusão da esfera cidadã nas decisões políticas e nos projetos de interesse local, regional ou nacional são importantes ferramentas com capacidade de moldar e influenciar a cultura política sem colocar em causa o valor da democracia ajudando a que estas mesmas decisões sejam tomadas em consenso com maior proximidade com as realidades locais. As políticas mudam mas as formas de protesto mantêm-se ao longo dos tempos e na história mais ou menos recente é possível encontrar exemplos da força do poder das populações na tomada de decisões políticas que a todos dizem respeito■

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