Não fui, porque não sabia…

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Dora Mendes
técnica de museu

Caldas da Rainha sempre teve na sua história um certo quê de contrariedade. Desde a sua génese que muito nesta cidade se passa ao contrário da tendência comum. Repare-se, por exemplo, que por aqui primeiro se fez um hospital e, só depois, se criou uma vila!
Esta teimosia, ou casmurrice, se preferirem, assenta que nem uma luva no tema que trago hoje: comunicação.
Estamos na era da informação digital, temos um privilegiado acesso todos os meios de informação e comunicação disponíveis, e a grande maioria de nós, tem recursos de usufruto destes meios. Com isto, seria de esperar que por estas bandas, tal como em tantos outros lugares, a comunicação fluísse segura e de forma fácil por entre todos os que por aqui residem. No entanto, fazendo vincar a sua teimosia, nas Caldas da Rainha tal parece não acontecer…
Por certo todos já tiveram esta conversa, partilhando em jeito de desabafo, que “nunca sei de nada do que por aqui se passa”, que “quando sei, já aconteceu”, ou, levando ao extremo “nas Caldas nunca acontece nada”.
Na verdade, por cá, acontecem tantas coisas como em tantos outros locais. Por vezes até mais… é realmente incrível a produção de eventos de diversas naturezas e origens, que se promovem nesta cidade. Mantém-se no entanto esta nuvem, densa, sobre o caminho da comunicação de todas estas dinâmicas.
Este não é um tema novo. Há anos que se fala neste aspeto. Há anos que se discutem porquês, lançam-se tentativas de colmatar esta lacuna criando plataformas, páginas on line, e-mails, cartazes e mil e uma formas de tentar corrigir esta questão. E, se ao início as coisas parecem animar, pouco depois tendem a regressar à tendência anterior e esfumam-se na nuvem densa que teima em estacionar sobre a promoção de eventos nesta cidade.
Também é certo que nem todos os eventos são de massas. Existem nichos de interesses que são saudáveis e que garantem que a produção se continua a fazer de forma livre, espontânea e, sempre com público que adere e agradece. E, de alguma forma, dentro destes nichos a informação é eficaz.
Seria no entanto interessante que, mesmo não aderindo a todos os eventos, pudéssemos ter a opção de decisão com base no conhecimento dos mesmos. No que a mim me toca, faço muitas vezes de “folha de jornal”, partilhando datas e eventos vários por entre amigos. E, muitas vezes constato que não se trata de não existir informação, mas somente de cada um de nós não estar no “canal” certo para a receber.
Há que reconhecer que tantas vezes passamos por cartazes, publicações on line, e tantas outras formas de comunicação, e mesmo esbarrando contra um mupi numa das ruas da cidade, não lemos sequer o que vem anunciado. Na verdade, sabemos bem que basta uma pesquisa por qualquer meio de comunicação ou rede social, e depressa encontramos agenda para todos os dias do mês, diria mesmo do ano. Mas, talvez porque “condenados” a estas águas mornas, continuamos a abraçar esta preguiça, não sei se mental, se simplesmente física na medida em que a partir do momento em que sei, não poderei dizer que “não fui porque não sabia”…

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