Museu José Malhôa e Museu da Cerâmica

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É com muita tristeza que vejo o Museu José Malhôa e o Museu da Cerâmica, em Caldas da Rainha, transformados em salões de festas de coletividades de bairro.
As atividades ali desenvolvidas e as parcerias culturais efetuadas, mostram-me que a decadência chegou a esses dois símbolos da arte pictórica de uma região de há muito empobrecida e sem valores significativos na cultura nacional.
Os mentores dos projetos (se é que se podem chamar de “projetos” aquelas aberrações) que norteiam aqueles dois estabelecimentos, infelizmente, estão como a maioria dos autarcas da região: sem noção do que de facto é Cultura.
O Museu José Malhôa perde, a cada dia que passa, o seu rosto, a sua identidade, ao assumir compromissos com entidades secundárias, que estão a expor o que de pior se pode produzir em matéria de artes plásticas, fazendo com que aquele Museu, o grande polo Naturalista de Portugal, esteja a esvaziar-se, enquanto conceito e ideologia.
O Museu da Cerâmica, oferecido de forma ridícula a festinhas de Halloween, vem mostrar-nos o que o espera quando for, realmente, uma entidade gerida pela Câmara Municipal: será mais um estabelecimento a funcionar precariamente e completamente desviado do seu propósito inicial.
Brevemente estaremos a ver os senhores presidentes da Câmara, da Assembleia e das juntas de freguesia a deleitarem-se com os comes e bebes servidos principescamente em alguma jogatana de Bocha em uma das salas daqueles museus ou, Deus nos livre, a banquetearem-se fartamente no Salão Malhôa, gentilmente cedido para uma pseudo-excelência qualquer comemorar o batizado de mais um futuro votante laranja.
Caldas da Rainha é uma mísera sombra daquilo que foi até meados dos anos setenta, do século XX. Culpa do voto cego, de cabresto, de parte da população. É uma cidade com níveis culturais baixos, sem expressão na região Oeste (para o distrito e para o país não existe, de facto) e vem perdendo a cada ano mais terreno, ganho por outras vilas e cidades próximas, que compreendem que o maior valor de uma região está no peso da sua cultura.
A diferença entre, por exemplo, Caldas da Rainha e Óbidos, atualmente, é tanta que basta mostrar duas situações para que se desfaçam as dúvidas: Óbidos recebeu trinta mil visitantes na sua primeira Feira Literária, estando os políticos e organismos locais a trabalhar em conjunto para o sucesso da empreitada, o que, de facto, se verificou. Poucos dias antes, os políticos caldenses estavam atarefados a emborcar um copito e a degustar uns acepipes na reinauguração de uma loja de telemóveis, situada na rua Cândido dos Reis (rua das Montras), realmente um apoio avassalador à cultura local. Espero que façam o mesmo com qualquer comerciante que queira abrir um novo estabelecimento na cidade. Peço desculpa, esqueci-me que isso está reservado apenas para os amigos.
Regressando ao que me fez escrever este artigo: farei uma participação à Secretaria de Estado da Cultura, bem como, à Direção Regional de Cultura do Centro, para tentar impedir o avanço das aberrações a que andam a sujeitar o Museu José Malhôa e o Museu da Cerâmica.
Se ninguém der o passo inicial para proteger aquelas duas instituições, um dia, serão classificadas como “entidades de bairro” e, para mal de todos os nossos pecados, mais um polo de “cabides de emprego” dos senhores políticos da Situação.
Rui Calisto

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