Normalmente diz-se que o Canadá é um país multi-étnico,multi-linguístico e multi-religioso. Se as línguas oficiais são apenas duas, o Inglês e o Francês, já no que se refere às religiões, o seu número não se pode contar pelos dedos das mãos. No início da colonização franco-britânica, aos diversos cultos pagãos dos povos das primeiras nações vieram juntar-se os católicos e os protestantes. A diferenciação era fácil de fazer, os Anglo-saxónicos protestantes e os católicos gauleses.
Na nossa província, até meados do século vinte sob apertada vigilância da igreja, as festividades natalícias assemelham-se muito ao que estávmos habituados na nossa aldeia.Quando aqui chegámos nos finais de 1975 ainda não conhecíamos o Pai Natal. Era um «Menino Jesus» relativamente pobre, que descia por algumas chaminés do Chão da Parada, e deixava parcos presentes, às menos pobres crianças da terra. Infelizmente «esquecia-se» dos mais pobres. Os adultos eram naturalmente esquecidos. Logo no nosso primeiro Natal quebequense, em Dezembro desse ano, descobrimos o personagem do Pai Natal, e a enorme importância que lhe era dada pelos comércios da cidade, que organizavam em sua honra um enorme cortejo, incitando-nos a um tipo de consumo que nos era completamente alheio. Hoje, ao abrirmos as televisões portuguesas notamos que o Pai Natal, globalização oblige, também já invadiu a maioria dos lares em Portugal. A Árvore de Natal destituiu o velho presépio, que continua no entanto a ser montado em muitas casas portuguesas da zona, sobretudo nas da Comunidade Açoreana, que nos parece ser mais conservadora, nestas coisas da religião, do que a continental.
Em todas as famílias, quebequenses de gema ou doutras origens, o Natal é sobretudo uma época de festa que se passa no aconchego do lar. A quase totalidade dos cafés e restaurantes fecha na noite de 24 de Dezembro, e no dia de Natal a actividade produtiva pára completamente. No entanto, para aqueles que não têm afectos familiares e alguns dólares de lado, é uma oportunidade em ouro para passar uma semana de férias baratas sob o Sol quente das Caraíbas. É que devido à fraca procura de pacotes turísticos neste periodo, os preços são muito interessantes. Na semana seguinte, da passagem de Ano, ao contrário, toda a actividade se passa fora de portas.
A partir de finais de Novembro, e sem esperar pelas iluminações que as autoridades municipais instalam nas ruas das nossas cidades, e sobretudo nas zonas de habitações unifamiliares, praticamente todas as casas estão decoradas com iluminações natalícias interiores, ou magníficos arranjos artísticos de luzes, cores e por vezes até musicais, nos grandes jardins exteriores das nossas residências.
Na nossa noite de Natal,continuamos a comer as mesmas couves com bacalhau, e a confeccionar os fritos da nossa meninice, as saborosas filhós, preparadas exactamente como nos anos cinquenta e sessenta do século passado, em que a responsável do lar, com a ajuda de todos, se encarrega do laborioso amassar manual, num grande alguidar que já não é de cerâmica, mas sim de plástico, da massa, que depois terá de ficar a levedar, antes de ir para o óleo fervente da fritura. Na família quebequense, que apenas come couves em saladas frias, não pode faltar o peru de Natal e uma boa tourtiére de Noël,(espécie de torta de carne condimentada e, honestamente, um dos nossos pratos preferidos não só no Natal, como em qualquer altura do ano.
Depois do jantar,o verdadeiro Pai Natal distribui presentes por todos,desde o recém-nascido bebé, até ao mais velho patriarca, e por último a família desloca-se por vezes até à igreja mais próxima assistir à Missa, que não se chama do Galo, mas apenas da Meia-Noite. É que por aqui, os galos, nesta época do ano, estão bem guardados no interior de espaços isolados e aquecidos.
Natal é assim,uma época de felicidade, em que se esquecem os pequenos e grandes problemas do dia a dia, e a grande preocupação das gentes da terra, é saber se já existe uma cobertura de neve suficiente para que, pequenos e grandes, possam ir em plena noite até ao mais pequeno declive, armados de trenós, e neles se divertirem até à exaustão.
Na nossa pequena cidade de Longueuil, a zona velha da cidade ganha cores diferentes com as iluminações de Natal, e durante as três primeiras semanas de Dezembro entre os dias 3 e 22, instala-se uma espécie de Mercado de Natal com várias pequenas casotas, lindamente decoradas e profusamente iluminadas, onde podemos encontrar artesões e vendedores de produtos da terra. É passeio obrigatório para muitas famílias, que aí desfrutam da magia do ambiente que resulta duma mistura de sabores,de aromas de vinho quente ou de pain d’épices, entre os sons de cânticos de Natal, ou das coreografias e prestações gratuitas de cantores, contadores de histórias, jograis, ou de grupos da nossa música folclórica tradicional de origem céltica.
Afinal, se exceptuarmos os arranjos luminosos das nossas habitações,e a natural diferença dos hábitos alimentares,devido à influência que a religião católica teve na formação das sociedades lusa e quebequense, pode dizer-se que as diferenças entre os nossos Natais são mínimas.
J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca
































