Rosa Machado
Técnica Superior de Biblioteca e Documentação
Quando entendi voltar a estudar, só tinha a secção de letras do liceu (o tal exame feito em Oeiras), pelo que houve que partir da escala 0: estava grávida, comecei a frequentar o liceu à noite (fiz parte do grupo que foi a Lisboa falar no ME para obter autorização para a abertura das aulas nocturnas no liceu, o que nem todos queriam, que era concorrência ao Ramalho Ortigão…), mas como não tive apoio para tal, esperei que a minha filha fosse mais crescidinha, para então frequentar o ensino nocturno na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, mais perto de casa; a minha sogra descia do 1º andar, para tomar conta da menina.
Guardo boas recordações desse tempo, algumas, cómicas: uma delas: em criança, nunca tinha sido boa aluna a Matemática: pois ali, cheguei a ter 19.9 nos testes. Fui perguntar à professora porque é que não tinha obtido 20; porque nunca os dava…
Para seguir Letras, mudei para a Escola Secundária Raul Proença, onde trabalhava.
Recordo o professor Manuel de Oliveira Perpétua: quando a aula dele era a última, vínhamos os dois, do Bairro dos Arneiros, em amena cavaqueira por aí acima; ele ficava em casa, e eu continuava a subir, até à Encosta do Sol.
E nunca mais parei de estudar: sempre fui a mais velha da minha turma, mas isso não me atrapalhou em nada; foi sempre muito, mas muito complicado, pois trabalhava e tinha uma casa e família para cuidar. As noites, eram para estudar e fazer trabalhos.
Devo ao meu Pai todos os incentivos que me deu e o facto de poder ter frequentado a Universidade: Licenciatura, Pós-Graduação e Mestrado; sem a sua ajuda, nunca o poderia ter feito: pagou tudo e deu-me os livros dele e os de minha Mãe, ambos de Românicas; os que foi preciso comprar, pagou-os.
O Doutoramento, em preparação, ficou na gaveta: foi uma altura cheia de problemas, de ordem pessoal, no trabalho, que viriam a culminar em doença, que muito a contragosto, me levaria a pedir a aposentação. Foi uma época muito triste, que começou com o falecimento do meu saudoso Pai, de que já falei anteriormente.
Quando a UAL abriu nas Caldas da Rainha, foi um alívio para mim, pois comecei a licenciatura em Lisboa.
O meu professor de Latim no 1º ano, o então reitor, Professor Doutor Justino Mendes de Almeida, era amigo do meu Pai; se eu não sabia alguma coisa, era certo e sabido que à noite tinha um telefonema: “ oh rapariga, então tu não sabias…” Aqui, devo acrescentar que além de aprendermos latim com a nossa Mãe, também tivemos no Liceu. Mas isso foi há séculos… ■

































