Um amigo muito bem colocado junto de um grupo hoteleiro internacional, embora pedindo que o mantenha no anonimato, permitiu-me que divulgasse em primeira mão uma excelente notícia para a Foz do Arelho e todo o Concelho.
Trata-se de um projecto de talassoterapia enquadrado numa unidade hoteleira de cinco estrelas, que vai recuperar um antigo hotel na Foz do Arelho. Embora com poucos quartos, a qualidade excepcional do empreendimento garantirá o seu sucesso.
Dois factores maiores contribuirão para esse elevado padrão de qualidade. O primeiro prende-se com a privilegiada localização do hotel. O segundo, com a oferta dos tratamentos com água do mar, ao nível do que de melhor se faz na Europa.
Sem esta segunda componente dos tratamentos, nunca este projecto seria viável e consequentemente nunca este grupo hoteleiro internacional se interessaria pela Foz do Arelho e as suas potencialidades. Portanto, desde as fases iniciais de negociação a autarquia foi envolvida, por ser crucial garantir a utilização da praia do mar.
Entendeu a autarquia que os ganhos que este empreendimento traz justificava conceder à outra parte a utilização da praia para a construção do centro de talassoterapia.
A ser, como se prevê, assinado durante os próximos dias o protocolo final, a praia do mar na Foz passará a ser concessionada e de acesso restrito para os hóspedes do hotel e do centro de talassoterapia. Com isto desaparecerão os dois acessos directos à praia e os munícipes e todos aqueles que nos visitam deixarão de ter acesso para lá da Avenida do Mar. Obviamente que todas as construções actualmente existentes nessa zona serão demolidas para dar lugar às novas instalações de apoio à talassoterapia.
Para além dos ganhos directos para a imagem e a economia do Concelho, outro argumento ajudou a convencer a Câmara Municipal. Como compensação pela utilização privada da praia do mar, este grupo pagará uma renda anual ao município, renda essa que será suficiente nomeadamente, para manter em permanência uma draga na lagoa. Pede-se um pequeno sacrifício à população – prescindir da praia do mar – mas, em compensação, teremos a economia do Concelho mais dinâmica e principalmente a lagoa dragada. Resolve-se assim um problema para o qual nem o Estado Central nem a Autarquia foram ainda capazes de encontrar solução – o assoreamento.
Neste momento alguns leitores já terão percebido que toda esta história não passa de ficção. Tanto quanto sei, e com todos os seus problemas, a praia do mar continuará pública e não se perspectiva a construção de nenhum centro de talassoterapia para a Foz. Aliás não faria qualquer sentido. Embora seja defensor da iniciativa e da propriedade privada, existem linhas que não podem ser ultrapassadas e “privatizações” que não podem ser admitidas. Há projectos que não serão viáveis porque as soluções para a sua viabilidade não são admissíveis à luz de interesses maiores. Embora existam ganhos financeiros imediatos, numa contabilidade que tome em atenção outras dimensões o saldo não é positivo. Quantos caldenses aceitariam ver privatizada a sua praia, embora em troca tivéssemos uma draga em permanência na lagoa?
O desconchavo da situação acima relatada (e não por acaso) tem um paralelismo total com o que a autarquia pretende autorizar para o Céu de Vidro. Sou totalmente a favor da concessão a privados dos pavilhões para um hotel, parece-me uma boa solução para a sua recuperação, parece-me interessante para a economia local, parece-me ainda importante como forma de potenciar a marca “Caldas da Rainha”, enquanto destino turístico. Sou frontal e visceralmente contra a inclusão do Céu de Vidro nesta concessão.
O Céu de Vidro é a entrada nobre do Parque, pensada no alinhamento e em continuidade com a fachada do Hospital.
Quebrar esta continuidade e o equilíbrio estético e funcional que ela representa, é amputar o complexo termal, tal como ele foi pensado e executado por Berquó, é condenar os caldenses à utilização das entradas secundárias do seu Parque, é, finalmente, privar a Cidade da fruição de um espaço emblemático de utilização comum.
A área dos Pavilhões a que se junta toda a área ocupada pelo antigo Salão Ibéria e ainda toda a área da Parada é enorme – não acredito que, tendo a Câmara sido melhor defensora dos interesses dos seus cidadãos, ela não fosse suficiente para justificar o investimento do grupo privado que quer reconstruir os Pavilhões. Claramente a Câmara, na ânsia de encontrar soluções para um problema, negociou o que não é negociável e prepara-se para sacrificar um património comum que não é sacrificável.
Mas isto é só a minha opinião.
João Diniz
































