Liberdade de expressão

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Na semana passada, num tribunal de Luanda, vários jovens ativistas políticos foram condenados a penas de prisão por se insurgirem contra o regime político instalado nas cadeiras do poder angolano.
Alguns dias depois, na Assembleia da República, o PSD votou contra e, com isso, ajudou a chumbar as propostas do PS e do BE que criticavam essa decisão judicial e pediam a libertação dos jovens ativistas.
Foram várias as vozes que se levantaram a criticar esta posição do PSD, inclusivamente de dentro do próprio partido, insinuando que o PSD estaria a “vender” a sua histórica posição de defensor dos direitos humanos em troco de relações económicas favoráveis com o regime angolano.
Se é certo que as propostas do PS e do BE que foram a votos raiavam a mais descarada ingerência em questões internas de um Estado soberano, com tiques neo-colonialistas, parecendo não querer ver que Angola é um país independente e não mais uma província portuguesa, o que, por si só, justifica o voto contra do PSD, a verdade é que não se compreende que, no “jogo” parlamentar, o PSD não tenha conseguido encontrar uma solução que lhe permitisse, sem margem para dúvidas, reafirmar a defesa intransigente dos direitos humanos, onde se inclui a liberdade de expressão, e o repúdio por todas as formas de censura e de limitação ilegítima desses direitos.
Nem sequer serve de desculpa a patética situação em que o PS se colocou ao afirmar, no Governo, a defesa dos direitos humanos, sem cometer, no entanto, nenhuma ingerência numa decisão judicial de outro país e, na Assembleia da República, ao pronunciar-se sobre o próprio processo, apelando à libertação dos condenados. Agradar a gregos e a troianos nunca é boa solução. Tendo perdido as eleições, o PS teve, para chegar ao poder, de depender do PCP e do BE. Em assuntos como estes, em que as suas muletas não estão de acordo, este PS coxo tem de fazer uma verdadeira acrobacia política para não cair no chão. Com o Governo agrada ao PCP e com a sua bancada parlamentar coloca-se ao lado do BE.
Aqui nas Caldas, porém, todos se atropelam para tentarem replicar esta forma menos democrática de chegar ao poder. Durante a campanha cada um pede os votos para implementar uma certa ideologia mas, passado esse “pormenor” do sufrágio, correm para os braços uns dos outros, não para construir algo mas apenas para tentarem derrubar quem tem vindo a merecer a confiança dos caldenses.
Tem sido interessante perceber, nestas colunas de opinião política, como a estratégia já parece estar bem oleada. Veja-se como, em duas semanas seguidas, a minha anterior crónica “A Comichão do Termal”, que relatava esta tentativa das oposições unidas chegarem ao poder, mesmo contra a vontade dos eleitores ou, pelo menos, arrumando na gaveta qualquer resquício de ideologia ou ética política, foi criticada por dois ilustres cronistas. Parabéns à Gazeta das Caldas por ter percebido tão bem essas manobras que se vão concretizando e ter parodiado, a propósito do dia das mentiras, com a escolha de António José Seguro para encabeçar esse ataque final.
Saiba o PSD manter a humildade necessária para não se fechar perante esta ofensiva, mantendo uma atitude dialogante que só favorece o nosso concelho e, dessa forma, manter a confiança dos caldenses.
Jorge Varela
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