Para quem não me conhece, sou o Bruno, sou do Nadadouro, desenho, escrevo, pinto e dou aulas, por esta ordem, digo Nadadouro para vos localizar, mas na verdade sou do Touguio, Negrelho e Barrosa.
Neste primeiro de treze textos que tenho para vos escrever, queria falar da Lagoa de Óbidos, mais precisamente do Cais da Rainha. Quando estava triste ia à Lagoa e ela também estava triste, se eu ia feliz a Lagoa também estava feliz, precisava de inspiração a Lagoa dava-me inspiração. Nem sempre fui à Lagoa sozinho, quando era miúdo ia com o meu avô, Mario Barrosa, não havia aquela lama preta, havia peixes, enguias e caranguejos nas margens, aliás dava para ir à margem. O sol punha-se e via-se o horizonte, via-se as serras sobrepostas, Arelho, Vau, Bom Sucesso, e lá estava eu todos os dia que lá fui a todas as horas que lá estive.
Quando o meu avô deixou de conseguir ir à Lagoa já não viu os flamingos, mas também não viu muita coisa má que ali foi feita e ainda é.
Agora vou à Lagoa, vou feliz mas fico triste, construíram uma Etar, desviaram o rio, mataram os peixes. Terrenos agrícolas junto à lagoa a usarem de forma intensiva pesticidas e fertilizantes só a pensar no lucro. Preservativos, descargas de entulho, cigarros, ganzas, eucaliptos, ignorância, burrice e lixo, vejo a lagoa a transformar-se num pântano aos poucos, aquele que é o maior tesouro do concelho ao abandono, será por ter Óbidos no nome? Mas já cá estava antes de Óbidos existir, não a ignorem por isso, sabemos tratar tão bem de nós e das nossas famílias, mas tratamos tão mal a nossa sociedade, quando é que vamos percebemos estamos todos no mesmo barco, e que as escolhas de hoje vão afectar os nossos filhos e os nossos netos.
Espero que quem escolha as margens da Lagoa (por ser mais bonito) para descarregar entulho, pelo menos, respire fundo, olhe para o horizonte e diga, “isto é lindo …”.
Tudo de Bom.
Lagoa, desculpa, é só isto que te posso dar
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