
Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT
Ao ser baseado em fontes (na sua maioria documentos), o métier do historiador nunca deixa de ser influenciado pelo que o tempo preservou e pelo que os arquivos encerram – e sobre estes muito havia a dizer. Esta é uma das razões para que se defina o conhecimento que obtemos do passado como uma construção, já que 1) existe sempre a possibilidade de descobrir novas fontes e 2) a sua análise pode produzir diferentes perspetivas e entendimentos sobre um mesmo acontecimento.
Assim se percebe que entre o historiador e as fontes se estabelece uma forte relação, da qual podem advir diversas ações. Fernando da Silva Correia optou por, além de um estudioso, ser divulgador das fontes ou seu “vulgarizador”, para aproximar ao termo usado por Marcelo Caetano para definir o seu trabalho na obra “Origens e formação das misericórdias portuguesas” (1944), que em breve também aqui registaremos.
Foram vários os documentos levados à estampa pela mão deste médico e, tal era a importância que dava às fontes para a história da assistência em Portugal que, em 1940, no Congresso do Mundo Português, lançou a ideia da compilação “Caritatis Monumenta Historica”. Projeto que desenvolveu ainda nesses anos, enquanto bolseiro do Instituto para a Alta Cultura e que, a posteriori, foi parcialmente publicado no “Boletim da Assistência Social”. De certa forma, esta ideia deu o mote para a obra “Portugaliae Monumenta Misericordiarum” (onze volumes, 2002-2011), cuja publicação iniciou por ocasião das Comemorações dos 500 Anos das Misericórdias.
O compromisso do Hospital das Caldas, sobejamente conhecido, estudado e editado, surgiu na revista “Instituto”, em 1930, com uma introdução de Fernando da Silva Correia. Para este divulgador, o compromisso atestava o “estado de adiantamento da assistência na doença em Portugal no começo do século XVI” e a “importância que era dada já nessa época à terapêutica termal” nas Caldas da Rainha. Através dele era possível conhecer “com uma meticulosidade e previdência admiráveis (…) os mínimos detalhes da vida do balneário-hospital”. Na sua opinião, o documento era ainda “um regulamento modelar não só para balneários como para estabelecimentos de beneficência, salvos os arcaísmos inevitáveis e de impossível adaptação.”
Com esta edição, o médico pretendia “não só focar mais uma vez o perfil inigualável de D. Leonor de Lancastre”, mas igualmente preservar “a memória das suas disposições”. Parece que a leitura do Compromisso “dispensa[va] todos os comentários” e constituía um momento prazeroso para “médicos, filantropos, historiadores” e “curiosos de coisas dos velhos tempos”.■
































