João Pedro (João Pistola) uma vida honrada

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notícias das CaldasNuma altura em que tantas vezes somos confrontados com noticias de despedimentos por mail, SMS e por telefone, de empresários que se recusam a passar os documentos para os trabalhadores requerem subsídio de desemprego, de trabalhadores com salários em atraso e a viverem situações de grande angústia, importa também falar de homens como este e que são, infelizmente, cada vez mais uma raridade.
De personalidade forte e temperamental, quem o conheceu também lhe sabe reconhecer grandes virtudes como a honradez, a humildade e a generosidade. Quando estava zangado era como uma tempestade, mas depois tinha uma faceta de grande humanidade…

João Rafael de Sousa Pedro, nasceu a 6 de Maio de 1933. O nome pelo qual sempre  foi conhecido foi  o de João Pistola, alcunha que teve origem num antepassado – o seu avô João Pedro, um homem com um nariz semelhante à “coronha de uma pistola”.
Filho de humildes agricultores, nasceu numa família de cinco irmãos,  e por dificuldades económicas teve de começar a trabalhar cedo (com apenas 13 anos) na profissão de serralheiro civil na empresa “Maximino de Carvalho”,no Bombarral. Homem inteligente e atento ao que se passava no pais e no mundo, só tinha a  instrução primária. Manteve-se nesta empresa até se mudar para a empresa “Belmiro Marques Lda” onde chegou a encarregado geral.
Na década de 60 empenhou-se politicamente no combate à ditadura, facto que lhe custou um período na cadeia de Aljube, em Lisboa, onde fez uma das maiores amizades da sua vida: Henrique da Glória Pato.
Após o falecimento do fundador da empresa Belmiro Marques, colocaram-se problemas de sucessão, visto os herdeiros do mesmo serem só mulheres. Assim, a gerência acabou por ficar durante algum tempo sob orientação de um dos genros do Sr. Belmiro Marques.
Entretanto, por altura do 25 de Abril de 1974, instalou-se um clima de instabilidade político-económica. Desta forma, os herdeiros do Sr. Belmiro decidiram passar a empresa ao seu encarregado geral João Pedro, que por sua vez entendeu que teria melhores hipóteses de dar continuidade ao negócio se formasse sociedade com outros trabalhadores da empresa. Foi assim que formou sociedade com Fernando Manuel Ferreira da Graça, Augusto Júlio Rodrigues (já falecido) e Vasco Ferreira Mil-Homens.
Refira-se também que os postos de trabalho foram mantidos, bem como o nome do fundador da empresa.
A partir de então a trajectória de expansão desta empresa foi significativa, tendo no auge empregado mais de 40 trabalhadores.
Tendo funcionado no coração da vila do Bombarral durante mais de 50 anos, na década de 90 a empresa adquiriu um terreno num loteamento industrial, para onde se mudou em 2000.
Os anos passaram-se e este homem foi incapaz  de se reformar aos 65 anos, numa altura em que a empresa evidenciava alguns problemas económicos, e não obstante ter a sua vida económica pessoal estável. Mas para o meu pai abandonar a empresa onde passou a maior parte da sua vida e para onde levou tantos trabalhadores com apenas 14 ou 15 anos… era pior que a própria morte! Era uma desonra!
Além disso, colocava-se mais uma vez a questão da sucessão… Quem daria continuidade à empresa? E os postos de trabalho?
Assim, manteve-se à frente do destino da mesma, apesar de já cansado e doente pois tinha  hipertensão, mau funcionamento renal e apneia do sono (dormia desde 1999 com um ventilador) e nela injectou dinheiro que tinha amealhado numa vida de muito trabalho e de sacrifícios pessoais.
Por fim, lá passou uma parte da sua quota a dois trabalhadores: Ricardo Emanuel Azevedo Carvalho e Ricardo Manuel Antunes Montez da Cruz  e outra parte à empresa Louritex em Fevereiro de 2008. Conseguiu assim atingir o seu desígnio de assegurar a continuidade da empresa e dos seus trabalhadores.
Reformou-se a 15 de Fevereiro e 2007 e faleceu a 06 de Julho de 2011.
Dirão ”coitado, nem gozou bem a vida!”. Mas o meu pai gozou a vida à sua maneira! Como ele costumava dizer: “Alguns divertem-se a viajar, eu divirto-me a trabalhar!”.
Paz à sua alma!

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Sónia Pedro

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