Dora Mendes
técnica de museu
Aceito o risco de iniciar esta crónica com um cliché; “depois da covid-19 nunca mais a vida foi a mesma”, nem mesmo o verão!
Desde julho que entrámos numa onda de calor que teima em não se dissipar, trazendo à vida caldense todo um novo conjunto de sentimentos e sensações que, até aqui, apenas observávamos de longe ou, quando saímos para qualquer outro lugar.
Para os que apregoavam que o inverno passava sempre o verão nas Caldas, este ano nem mesmo “ele”, o inverno, conseguiu manter a sua resiliência e partiu para outro lugar, deixando para trás todo um clima tipicamente oestino agora suspenso sob um sol intenso. Partilhamos todos desta resmunguice, que no fundo amamos, de ter o privilégio de viver um verão fresco nas Caldas. É este, aliás, um dos principais motivos da vinda de muita gente residir para esta zona.
No entanto, este ano, tudo mudou! Não apenas temos vivido temperaturas acima dos 30 graus, fazendo pensar que estamos em Santarém quando nem saímos das Caldas, como as mesmas se mantém por dias, semanas e meses consecutivos. Temos céu limpo ao invés daquelas maravilhosas manhãs de nevoeiro em que chuvisca. Nem mesmo as típicas nortadas de verão, fortes e frias, quiseram ficar no oeste. E como se não bastasse vivermos agora sob este verão intenso no nosso dia-a-dia, até mesmo as noites são quentes, fazendo esquecer no fundo dos armários o leque de casacos de verão que qualquer oestino tinha sempre à mão.
Talvez por isso este verão me pareça particularmente agitado! Esta luz intensa do sol, o calor, para mim excessivo, a quantidade de festas, romarias, festivais e toda uma panóplia de eventos em cartaz que diariamente nos chega. Juntando a tudo isso, familiares e amigos que regressam, reencontros e encontros que se promovem porque… é verão!
É toda uma agitação constante na qual embarcamos, porque finalmente temos a liberdade e o descanso para tal e, porque o verão e estas condições extraordinárias assim convidam.
Mas… estou cansada de verão. Deste verão!
Apetece-me voltar a sentir o fresco das manhãs do Oeste, aquela temperatura que nos permite manter ativos, sem a moleza que o calor intenso nos traz. Aquela possibilidade de ir trabalhar quase esquecendo que é verão e que meio planeta está de férias, porque nas Caldas está tudo enublado. Poder caminhar, atravessar a cidade para as tarefas diárias, sem sentir que vou desidratar assim que cortar o primeiro quarteirão.
E o recolhimento… sinto saudades de nada fazer. Ou, pelo menos, de ter tempo para parar e filtrar o que fazer sem ser antes atropelada por uma resma de eventos e compromissos.
Talvez seja este um suspiro Outonal… ■

































