José Luiz de Almeida Silva
Lisboa viveu uma tragédia incomensurável para a sua imagem, que as 16 vítimas mortais, mais os feridos, ficam a testemunhar por alguns anos, até que sobrevenha o esquecimento natural para a maioria.
Haverão muitas opiniões, técnicas e científicas, e outras mais de oportunidade e de oportunismo, mas ficará na memória que afinal um instrumento de promoção turística, usado intensivamente e cobrado ostensivamente, não tinha os cuidados de segurança exigidos para um uso tão frequente. Penso nas famílias atingidas pelo infortúnio, que podia ser qualquer uma das nossas.
Apesar de me ter cruzado inúmeras vezes com aqueles elevadores, não chegará provavelmente à dezena as vezes que os utilizei em muitos anos, quer por antes não necessitar diretamente, quer por, nos últimos anos, o seu uso turístico ser tão intenso que afastava qualquer passante de o fazer.
Com o acidente caiu o Carmo e a Trindade, como se costuma de dizer. Mas quem observa os céus de Lisboa vê atravessá-los minutos de seguida por aviões que sobrevoam a cidade, especialmente o seu coração urbano, em modo de aterragem ou de levantamento (apesar de ser mais raro neste caso).
Apesar das medidas de segurança serem muito maiores e mais escortinadas que as dos elevadores públicos da cidade de Lisboa, contudo, como o azar ou o infortúnio às vezes espeitam, o mesmo poderá acontecer, como tem ocorrido noutros locais, raramente sobre cidades (que não são atravessadas assim), num dia inesperado.
Nesse dia levantar-se-ão as acusações para todos aqueles, mais responsáveis ou menos, que ao longo das últimas décadas têm impedido ou dificultado a decisão de transferir o aeroporto de Lisboa para um local menos povoado. E aqueles que defendem a localização atual, por ser cómoda e mais barata, fugirão do escrutínio, esquecendo os seus argumentos e a sua incúria.

































