A vida, na verdade, não passaria de uma desconexa comédia se, ao cabo dela, no momento trágico da morte, não ficasse a obra que o Homem constrói, o fruto da sua capacidade de transformar o Mundo.
Vem isto a propósito de vermos partir um Amigo sem limite e um Autarca sem par.
Morreu José António Pereira Júnior. E os que já há 10 anos tínhamos deixado de o ver ao pé de nós, todos os dias o lembrávamos espelhado na sua obra e reflectido na sua personalidade.
O Presidente de Óbidos, o nosso querido Pereira Júnior, a quem um dia prometemos que defenderíamos a sua obra e lembraríamos o seu exemplo, deixou-nos definitivamente há uma semana.
A sua obra objectivou-se em mais de vinte anos de uma dedicação total, um combate sem tréguas e, nos últimos anos de mandato, até contra si próprio.
Uma obra concretizada num progresso municipal inapagável, onde não podem deixar de se citar as Redes de Saneamento Básico e o Abastecimento de Água ao domicílio por todo o concelho, a construção de parques desportivos, o Estádio Municipal de Óbidos; o apoio a mais de uma dezena de urbanizações; ou o Novo Centro de Saúde de Óbidos. Foi ele que criou a escola Josefa de Óbidos, adquiriu para o município o convento de São Miguel das Gaeiras, promoveu o Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia. A ele se deve a Pista Internacional de Remo do Bom Sucesso; e pela sua mão foi Óbidos sede da Região de Turismo do Oeste.
Na área da cultura, foi a Câmara da Presidência de Pereira Júnior que organizou o centenário da Morte de Josefa de Óbidos, a Bienal Internacional de Óbidos (Artes Plásticas), o Festival de Música Antiga, construiu a Casa da Música e a Biblioteca Municipal, criou o Arquivo Histórico Municipal, instalou rede de comunicações com canais de televisão gratuitos e editou mais de 30 livros sobre o concelho de Óbidos, apoiando sempre a investigação realizada sobre a história e a cultura locais.
Isto para citar apenas uma ínfima parte dos aspectos mais relevantes de uma obra construída, muitas vezes, ainda sem Fundos Europeus.
Tudo comandado por uma personalidade dotada de uma estranha força que amigos e adversários, senhores importantes ou povo anónimo, fossem quais fossem as opções partidárias, todos admiravam e respeitavam.
Pereira Júnior tinha uma incomensurável frontalidade; uma enorme lealdade; que depois desembocava numa fraternidade em uma tolerância que acabava por calar os que contra si reclamavam ou o criticavam.
Sejamos claros: não conheço nenhum munícipe mesmo daqueles que às vezes eram bombardeados com os seus acessos de cólera, que alguma vez tenha sido perseguido por ele.
É que a sua tolerância e a sua grandeza residiam exactamente em nunca ter uma vingança, nunca fazer uma represália a ninguém; fosse de que partido fosse.
Jamais esqueceremos que este Homem e este Autarca deu a Óbidos, e ao seu concelho, a sua vida profissional, a sua vida familiar; e, por fim, toda a sua saúde, a sua própria Vida.
Espírito de serviço, assim norteado pelo bem comum, sem qualquer intuito de projecto de pessoal de protagonismo, não se conhece! Em mais de vinte anos de combate pela “res publica”, não se lhe consegue apontar uma migalha de património pessoal acrescentado!
É por tudo isto que está por cumprir o louvor público a um dos cidadãos que mais engrandeceu a sua terra no último quartel do século XX.
A homenagem que o município terá ainda de fazer a Pereira Júnior, não é só um agradecimento, é o Dever que a autarquia tem de perpetuar a sua memória em local público para o apontar como exemplo para as gerações que nos continuarem.
João Gama Lourenço
































