Corria Dezembro de 2016 quando o Caixa Negra entrevistou o grupo que compõe o Grémio Caldense. Nayara, Ricardo, José e Francisca aceitaram gentilmente o convite para ir à rádio falar. Passado ano e meio, ouvi de novo o áudio da nossa conversa, e deparei-me com reflexões tardias mas concisas sobre o posicionamento deste grupo de vanguarda, que navega numa onda que traz e leva, e que no trazer de novos conceitos se reinventa sempre como projeto, e no levar, respira a alma de uma cidade que fica um pouco diferente a cada momento que se constrói. É sempre um enorme desafio escrever sobre quem trabalha no meio cultural, carregados de um forte cariz conceptual e intelectual, quaisquer palavras ficam sempre aquém das expectativas do leitor retratado. No entanto e com a intenção de sempre valorizar, como tem vindo a ser regra no Caixa Negra, aproveitei para ler algo de François Coubert, um dos maiores especialistas do Marketing das Artes para enquadrar esta crónica. Numa pergunta a François sobre a sua opinião de qual a arte mais difícil de promover, a resposta foi: “Quando falamos de arte contemporânea não são apenas o “sentir” ou a “beleza” da obra que estão em causa, mas também as nossas capacidades intelectuais para entender a mensagem do artista.
Arte contemporânea é “intelecto”, é refletir sobre a sociedade em que vivemos, chegando mesmo a assumir um discurso filosófico. Com estas palavras de François Coubert, entendo que o projeto que se tem vindo a construir com o Grémio Caldense nas suas múltiplas iniciativas, é o reflexo de um nicho de artistas e produtores jovens que carregam a vontade de num processo “hands on”, partir para uma realidade, que é transformada num espaço de reflexão sobre o que se faz de melhor na cultura contemporânea por essa Europa fora, e que neste grupo, encontra pessoas dispostas, a de forma voluntária, revelar momentos únicos de total imersão em propostas vanguardistas. O grupo é jovem, e arrisca sempre e de forma audaz, ao apresentar linguagens, sons, imagens, poesia, que são o mundo em análise num concentrado de alta intensidade de produção artística altamente erudita. Entenderá o seu sentido, quem a essa viagem se propuser, pelas mãos e curadoria do Grémio Caldense que faz o malabarismo de conseguir organizar em espaços diversos na cidade, o que de melhor se faz pelo mundo. Caldas da Rainha, cidade da criatividade e das artes, é palco regular de momentos intensos da melhor arte contemporânea. Quem por aqui passa sem ter bem a perceção, deixa um legado, que se reflete de forma pedagógica numa autêntica sociedade que sendo cosmopolita, urbana e rural em simultâneo é um micro-cosmos de eventos que proporcionam a este território uma qualidade e diversidade de cidadãos naturais ou acolhidos, que seguem sempre o mesmo lema: Querer fazer algo. Somos uma sociedade de fazedores e de pessoas que se aventuram numa jornada ativa e profícua de grandes momentos de qualidade ainda que de pequena dimensão.
Resta dizer que o Grémio está pela cidade a desafiar os mais curiosos a fazerem esta caminhada, de mãos dadas com todos aqueles que independentemente da idade, são jovens de espirito, e estão sequiosos de entender os sons e imagens que são o eco desta sociedade em rápida transformação. Carecendo de manual de instruções e de legendas para se entender por vezes o sentido do percurso das coisas, filosófico ou não, a sua complexidade revela-se pela mão destes artistas numa leitura sonora e visual das últimas tendências e apresenta propostas construtivas de uma possível interpretação do mundo.
O Grémio anda por aí a construir novas linguagens, basta para isso estar atento na rua e aqui na Gazeta das Caldas na página dos eventos culturais.
Mariana Calaça Baptista
info@marianacalacabaptista.pt

































