Olga Prada
Mentora do projeto Caracolga
Durante muito tempo, a gratidão foi apenas uma palavra bonita para mim. Um daqueles conceitos meio abstratos, muitas vezes repetido em frases feitas ou postais de aniversário. E confesso que por vezes até me incomodava a sua utilização, parecia-me vazia de significado. Até que comecei a praticá-la de forma consciente — e aí tudo mudou.
Quando agradecemos, reconhecemos que algo nos foi oferecido sem termos, necessariamente, feito algo para o merecer. Esse reconhecimento abre espaço para a humildade, para a empatia e para a conexão. E isso muda tudo — na forma como olhamos para a vida e para quem caminha ao nosso lado.
A prática da gratidão está associada a estados emocionais positivos como o contentamento, a esperança, a alegria e o amor. Estudos mostram que as pessoas gratas sentem-se mais confiantes, mais criativas, mais saudáveis e até mais otimistas em relação ao futuro. Por outro lado, sentem menos inveja, raiva ou ressentimento. É como se a gratidão fosse um filtro que transforma o olhar e, com isso, transforma o mundo.
Não é só uma metáfora. A ciência comprova: quando sentimos gratidão, o nosso cérebro ativa o sistema de recompensas libertando dopamina (que nos faz sentir bem) e ocitocina (a chamada “hormona do amor”, que acalma, reduz a ansiedade e fortalece os laços afetivos). Não é magia. É bioquímica. Mas parece magia, porque é simples e profundamente eficaz.
Ainda assim, sabemos que nem sempre é fácil sentir gratidão. Especialmente quando estamos a viver momentos desafiantes. A boa notícia é que a prática da gratidão é também uma escolha. Algo que pode ser treinado, como um músculo que se fortalece com o uso. Podemos ensinar o nosso cérebro a reconhecer as dádivas da vida, mesmo nos dias mais cinzentos.
É aí que entra o exercício do diário de gratidão. Deixo-lhe uma sugestão de prática: todos os dias, ao final do dia, escreva três frases sobre algo pelo qual se sente grato no seu dia. Parece simples — e é mesmo —, mas os efeitos são profundos e duradouros. Ao fazer este exercício, o leitor está a mudar o seu foco, a treinar o seu olhar para aquilo que corre bem, para o que o nutre, para o que o sustenta.
Não significa negar a dor ou os desafios. A gratidão não é negação, é integração. É reconhecer que, mesmo nos momentos difíceis, há algo pelo que podemos ser gratos.
No projeto Caracolga (www.caracolga.pt), onde partilho práticas de mindfulness, meditação e autoconhecimento, a gratidão é um dos pilares que usamos para fortalecer o sentimento de calma e bem-estar. Se está a viver um momento difícil ou apenas sente que a vida podia ser mais leve, convido-o a fazer uma pausa, para respirar, para sentir, e quem sabe, para agradecer.
A gratidão não muda o que acontece. Mas muda profundamente a forma como vivemos o que acontece. E isso, por si só, pode mudar tudo. ■

































