Dora Mendes
técnica de museu
Talvez hoje a ideia de jornal esteja muito longe daquela com que conheci a Gazeta das Caldas. As notícias saem ao minuto, disponibilizadas de forma imediata em tudo o que são meios de comunicação, redes sociais, ou outros meios de informação. Mesmo as notícias locais acompanham hoje este ritmo frenético.
Mas nem sempre foi assim… tempos houve em que se aguardava semanalmente pela edição do jornal, para atualizarmos as notícias da vida local, ver caras conhecidas e saber o que iria acontecer por cá.
Esperar à sexta-feira pelo carteiro, significava receber a Gazeta das Caldas e rapidamente iniciar o ritual de abrir o jornal, sentir o cheiro do papel e da gráfica, e ler, folha após folha, as notícias da região.
Esta relação com a Gazeta teve, para mim, o seu auge quando tive a oportunidade de entrar na redação para trabalhar! Dobrar jornais e colocá-los nas cintas de papel, preparando-os para seguirem para distribuição. Mais do que a tarefa em si, foi o entrar naquele local de carisma secreto, onde pessoas privilegiadas conseguiam saber notícias antes de todos os outros comuns mortais caldenses.
Ler a Gazeta era, na altura, uma espécie de rede social impressa, na qual íamos sabendo quem fazia parte desta comunidade. Nem sempre conhecíamos todas as caras abordadas naquela edição, no entanto acabavam por se tornar familiares. Assim, além do papel de informar, à Gazeta sempre coube o papel de aproximar pessoas. Cumprindo em especial este papel com as comunidades imigrantes caldenses.
A Gazeta não faz gazeta a este papel social que lhe é inerente, e ao longo dos anos não se limitou apenas a comunicar através das folhas de um jornal, saiu para a rua, dando a cara na primeira pessoa (diria mesmo primeira, segunda, terceira, quarta… porque a Gazeta são muitas pessoas), em eventos vários, muitos dos quais foi o principal promotor.
Hoje todos conhecemos estes jornalistas, privilegiados, e tantos outos colaboradores que estão nos bastidores desta redação. Não tem mais o mistério de qualquer lugar inacessível pois a Gazeta é muito mais do que apenas um jornal local. É um testemunho incontornável de história local. Da história dos grandes acontecimentos, mas também da história das pequenas coisas de cada um de nós, conferindo a muitos, sem saber, os míticos 5 minutos de fama por aparecermos distraidamente numa qualquer fotografia.
É certo que a Gazeta de hoje não é a Gazeta de outrora. Também “ela” se viu desafiada a acompanhar e resistir neste novo mundo em que o verbo “esperar” parece não caber na vida de cada um de nós.
Hoje já não espero pelo carteiro para receber a Gazeta. Mas continuo a esperar pela mensagem que me traz a edição digital. Talvez não espere ler nada de realmente novo dado que a informação vai sendo atualizada dia a dia, mas continuo a encontrar-me em “casa” neste jornal tão familiar.
Obrigada Gazeta das Caldas, obrigada a todos o que são a Gazeta das Caldas. Muitos parabéns!
































