“O sonho é uma batalha, estou a falar dos verdadeiros sonhos e não dos pequenos desejos que nos passam pela cabeça …
– O que é um verdadeiro sonho?
– é um sonho que dura. E se dura, é porque se casou. Com a vontade.”
Este é um excerto d”Os Cavaleiros do Conjuntivo” de Erik Orsenna que matuta na minha cabeça nesta altura de reflexão de novo ano. O sonho de que penso é o sonho europeu. O sonho de paz entre inimigos históricos. O sonho de prosperidade, de liberdade de circular e de ser feliz em qualquer canto do espaço europeu. O sonho de crescermos juntos fazendo prevalecer os valores europeus num mundo cada vez mais individualista e capitalizado: os valores de solidariedade, de justiça, de oportunidades iguais, de proteção das pessoas e do ambiente.
2016 foi testemunha de mudanças que desafiam esse sonho. Crises e eventos dramáticos que vão deixar cicatrizes por um longo período. É exatamente nos momentos mais difíceis que há que recordar o que já conseguimos construir juntos. A União Europeia é o projeto democrático mais ambicioso do mundo e está incompleta. Isto não é um paradoxo, é complementar. O que faz a diferença é a forma como lidamos com elas e se algo aprendemos, como europeus, é que sempre que derivámos para o individualismo o resultado foi negativo. O imaginar, por um momento, que a União Europeia deixasse de existir, é um cenário assustador… Onde anda a vontade para o evitar? Não podemos continuar a calar esta nossa vontade e deixarmo-nos seduzir pelo caminho do facilitismo.
A vontade muitas vezes desanima porque se fala tanto de como 2016 foi um ano difícil para a Europa e para o mundo em geral. E foi. Mas, foi também testemunha de muitas vitórias que passam mais despercebidas. Foi, sem dúvida, um bom ano para Portugal que está a caminhar para a recuperação económica. Isso é bom para os portugueses e para todos os europeus. A Comissão Europeia está atenta, aplicando as regras de forma inteligente, e defende o contribuinte europeu ao não deixar passar acordos fiscais ilegais mesmo enfrentando a gigantesca Apple. Implementou uma longa lista de processos para resolver e evitar os avassaladores fluxos de migrações forçadas, ajudar no imediato as pessoas, travar os criminosos e apoiar os países de origem para resolver de raiz a pobreza e os conflitos que forçam as pessoas a deixar as suas casas. Melhorou-se a colaboração entre países na Defesa e na Segurança das nossas fronteiras e dos nossos cidadãos. A UE está mais digital e inovadora, reforçando incentivos ao investimento, à inclusão tecnológica e ao empreendedorismo. Avançou-se no acesso à energia limpa e sustentável para todos. Celebraram-se os 25 anos do MEDIA que é um dos muitos programas europeus que promovem a cultura, a criatividade e o património como partes essenciais da identidade europeia. O emprego está a aumentar, continuamente, e reforçaram-se os programas dedicados a dar oportunidades aos jovens – como o Erasmus+, a Garantia para a Juventude e o recém-lançado Corpo Europeu de Solidariedade. Uma longa lista que não termina aqui e que pode animar a nossa vontade. Oh sonho, que já tens tanto de real.
Para mim, 2016 significou o início do grande desafio de ser Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal. Estes meses muito positivos e intensos ensinaram-me, acima de tudo, que a mais importante resolução para 2017 é de conversar mais sobre como podemos, todos, avigorar a vontade para casar com o sonho, o nosso sonho europeu.
Sofia Colares Alves
Chefe de Representação da Comissão Europeia em Portugal

































