«Gare Oriente – apontamentos de viagens» de Álvaro Luís

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livro-semanaA escrita poética de Álvaro Luís inscreve-se num duplo registo – geografia e cultura.
Surgem no livro citações de Fernando Pessoa e de Miguel Torga.
Não por acaso um dos poemas deste livro afirma: «Não é poesia / É a minha vida». Este intervalo, esta oscilação, este separador, acaba por integrar na matéria do poema não apenas a vida real mas também a memória do vivido. Como no caso do poema «Casablanca»: «Que são 500 concubinas no meio do Deserto / Comparadas com 12.000 cavalos / E tu Rick deixaste fugir a Ingrid / Porquê». Ou o encontro impossível na prática mas possível na poesia entre Calamity Jane e Buffalo Bill: «Montada no teu cavalo/Casaco pele de veado/Com franjas/Olhar de atiradora/Surgiste/E eu Buffalo Bill/Reformado/Camisa azul aos quadrados /Fiquei ali parado».
A Poesia é feita de palavras como em «Nós» («Nós para unir / Nós de pesca / Nós de correr / Nós de encurtar / Nós os dois») mas também de jogos de palavras como no poema «Viagem a Marte»: «Ali estás pronta a partir / Ir para Marte contigo / Resolveria tudo momentaneamente / Ao longe as bombas vão caindo de mansinho / Será possível de vez / conquistar esta morte que me espera.»
Livro também de viagens (a viagem como metáfora da vida) aqui se inscreve o lugar da infância («Senti saudades / E fui procurar-me /Ao bairro onde vivi»)ou do passado («Eu sei que a minha vida está perdida / Que o amor me abandonou há muito») mas também a Cabul («Esta manhã / O comboio para Cabul / vinha cheio») ou ainda ao tempo-memória do «25 de Abril: «Aqui posto de comando / Das Forças Armadas / Lisboa acordou sobressaltada».
(Prefácio: Risoleta Pinto Pedro, Capa: Sociedade de Geografia Lisboa, Edição do Autor, Nota contracapa: José Alberto Varandas)

José do Carmo Francisco

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