Férias nas Caldas

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“Chegou no comboio às Caldas o nosso amigo Sr… fugindo da canícula da capital para encontrar no Parque um merecido e refrescante repouso, que se pretende também animado nas nossas Termas centenárias.”
Seria mais ou menos assim que a imprensa local relataria uma chegada às Caldas para vilegiatura no final do século XIX início do XX.
Hoje já não há Termas mas continua a frescura neste Oeste selvagem quase sempre sem sol: praia de manhã é difícil.

Dizia-se, há dias, no meu círculo da má-língua no Café Central, que o poder instalado na terra há muitos anos, não fez uma única obra de jeito!…
E assim continuamos.
Vá lá que voltaram as Feiras ao Parque… que agora quase que só dão música e boa, que nós pagamos alegremente.
Comércio há cada vez menos, Cerâmica resta a Bordalo, salva por uma empresa do regime com o nosso dinheiro…. graças a Deus.
O único negócio florescente é o das almas. Várias duplas de propagandistas, com “stands” a preceito e literatura abundante “vendem” religião ao vivo, espalhados pela cidade em pontos estratégicos.
No último espectáculo da Feira dos Frutos a Ana Moura levou 15.000 pessoas ao Parque; ouvia-se mal mas o povo apinhado gostou.
Vamos pagar um empréstimo à banca de 2 milhões de euros para investimentos que incluem uma sede para o Teatro da Rainha (que aliás ficaria muito bem instalado no CCC nome usurpado ao Conjunto Cénico Caldense de saudosa memória).
“Eles” lá sabem porquê! como se dizia na publicidade da desaparecida pasta de dentes Binaca.
Antes de regressar à capital fui fazer o circuito de despedida desta terra abandonada por Deus (entregue aos “bichos”), mas bonita por natureza.
Passei no cemitério velho, mas os cadáveres estavam cá fora e em muito mau estado: os da SECLA por exemplo.
Já nem há as sombras dos ciprestes, o sol, quando aparece, torna as romagens ainda mais difíceis.
Visitei também alguns ilustres senhores que lá repousam em triste abandono.
O último administrador da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha: A. L. Gonzaga Gomes com uma campânula em faiança da Fábrica, com o seu nome, mas muito degradada; o sobrinho de Bordalo, Vasco Lopes de Mendonça, seu seguidor como caricaturista, falecido em 1961 sem o reconhecimento devido, etc. etc.
Ecos de um passado glorioso que não honramos.
Os “negócios das almas” também se metem nos “cacos”. Vamos ver se tudo se faz a tempo e em condições: dinheiro parece haver com fartura. Diz-se que os Pavilhões do Parque foram integradas numa lista de 30 edifícios para recuperação adequada. Vamos ver se não caem antes de se actuar.
Até para o ano… Em 2017 o “frigorífico do Oeste” deverá receber-me de novo em Agosto para rever ausências e refrescar as ideia.

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Jorge Figueiredo Ferreira

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