Faça-se Luz!

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José Ramalho
Actor & Marionetista

O Natal está à porta. As cidades vestem-se de luz. Com decorações adquiridas por catálogo que repetem a paisagem urbana de Norte a Sul do País. Tornando difícil a diferenciação e até a identidade. No entanto, a diferença de classes também se manifesta neste campeonato. As cidades com Orçamentos mais anafados, podem permitir-se aceder a catálogos outros e apostar em escolhas que as tornam, por vezes, um pouco mais diferentes das cidades vizinhas. Numas e noutras o turismo agradece. Os agentes económicos dos territórios veêm as suas tesourarias sazonais iluminar-se, tentando contrariar as crises, que nos vêm assolando, por causas sobejamente conhecidas de todos.
A cidade das Caldas da Rainha, não fugindo à regra natalícia, povoa as ruas e praças de iluminação garrida, no intuito de assinalar este período. Procurando contribuir para o chamado passeio peregrinacional familiar na visita ao espectáculo das luminárias com o corolário no gigantesco cone que prefigura a Árvore de Natal, no passado recente considerada a maior de Portugal. O comércio local e outro fica expectante, na esperança de que o seu sapatinho de Natal vá sendo antecipado ao longo do mês e meio da vetusta iluminação.
Nos tempos que vivemos, com particular destaque para a crise energética, podemos discutir a oportunidade deste investimento. Deixo esta nota para outras reflexões.
Falando de investimento, cidades há em que a aposta ultrapassa o mero negócio de aquisição dos mesmos serviços às mesmas empresas que os fornecem em múltiplas cidades, tentando contrariar o efeito fotocópia.
O Funchal, cuja iluminação é mundialmente conhecida, foi com o trabalho da escultora Manuela Aranha que ganhou notoriedade. Esta artista, que veio a ser Directora Regional da Cultura, imprimiu à iluminação natalícia uma narrativa, a partir da história e motivos locais, desenhando modelos exclusivos, aumentando o impacto positivo nas populações, com sorrisos alargados no tilintar das caixas dos negócios.
Sendo a ESAD o espaço formativo na área das Artes que contribui para a exaltação de tantas vertentes artísticas, manifestas com o impacto de artistas saídos das suas fornadas, nas mais variadas paragens. Ou seja, as Caldas da Rainha reúnem um conjunto de competências práticas que podem aportar vantagens competitivas pelo conhecimento especializado, na promoção da inovação. Basta cruzar os saberes de instituições formativas – ESAD e CENFIM – e outros parceiros locais, na criação de produtos únicos, diferenciadores que revelem as marcas identitárias do território. Numa estratégia de criação de valor acrescentado, deve ser colocado o desafio a estas instituições, entregando-lhes um conjunto de ruas e Praças, para criarem um produto exclusivo de iluminação, no qual se junte o design e a tecnologia. Repetindo-se este desígnio em cada ano, até ao preenchimento da malha territorial. A cidade transforma-se num portefólio a céu aberto, na promoção de uma área de negócio com o potencial que todos conhecemos. Este processo de I & D – Investigação e Desenvolvimento, dará os seus frutos a prazo. Numa primeira fase obriga a um investimento mais musculado, a prazo terá o devido retorno. Transformando a cidade de Receptora em Promotora de conteúdos, nesta área, valorizando as impressões digitais identitárias com potencial de serem decalcadas em perfis estéticos que o design, a serralharia, a electricidade e a electrónica, se encarregarão de arrumar, promovendo discursos narrativos exclusivos. Do universo bordaliano, aos bordados, à imagética dos seres das águas, os ícones frutívoros, o mundo fantástico da Mata Encantada, torna infindável e inesgotável o desafio à imaginação e criatividade, ao serviço das múltiplas áreas de negócio.
Caldas Cidade Criativa! Caldas Cidade das Artes e das Águas!
Faça-se Luz!

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1 Verso do poema JOSÉ de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

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