A presença do Pai no nascimento do seu filho (leia-se, no parto, emobra o parto seja apenas um epifenómeno de uma coisa muito mais vasta: o nascimento), é um direito inalienável, que só deve ser negado face a condições e razões reais, lógicas e inultrapassáveis.
O Pai, no parto, é mais do que um “assistente”, um espectador; pelo contrário, é um participante, porque ter um filho é um projecto a dois, que resulta do amor de duas pessoas, e a Ciência já demonstrou – sem margem para quaisquer dúvidas -, que o Pai “também está grávido”, o que as alterações físicas e psicológicas que sofre bem o demonstram. Aliás, a fantasia de ter um filho começa aos 18 meses de idade.
Assim, quando resulta da vontade expressa dos dois, não pode ser negada – a não ser em casos excepcionais – a presença do Pai num momento sublime, transcendente e único da vida da família.
A realização de uma cesariana com epidural, em que a Mãe está lúcida e acordada, e em que o acto médico está claramente separado da intimidade familiar, não me parece ser impedimento para a presença do Pai na sala de partos – não passará pela cabeça de ninguém que Pai vá “espreitar por cima do pano verde” ou dar opiniões e “palpites” sobre o acto médico. Nem os profissionais, decerto, se sentirão influenciados, nas suas decisões e na sua prática, pela presença de pessoas “para lá” do seu campo de trabalho. Aliás, face a qualquer problema repentino, com certeza que o Pai aceitaria sair da sala, caso surgisse a necessidade. Acresce que não existe qualquer perigo infeccioso inerente à presença de outra pessoa, dado que esta se desinfectará e protegerá como, por exemplo, qualquer aluno de Medicina que presencia um acto cirúrgico.
Ainda se deve referir que o Recém-nascido, como têm repetidamente demonstrado Brazelton e tantos outros pediatras do desenvolvimento e neonatologistas, necessita de ser abraçado pela sua Mãe e pelo seu Pai logo a seguir ao nascimento – caso, bem entendido, razões clínicas não justifiquem outra atitude -, e necessita mamar para repôr a glicemia e aumentar os níveis de ocitocina da Mãe (com melhor saída de leite, bem-estar, analgesia e contracção uterina). O momento imediatamente a seguir ao nascer é um momento crítico e histórico, de uma profundidade inigualável. Negar aos Pais e ao Recém-nascido esta oportunidade, por meras “rotinas de serviço” que não são individualizadas, será um erro e uma prática inadequada.
É por isso que as equipas médicas e de enfermagem têm de ter a maior compreensão para que o Pai possa participar no (também seu) nascimento, para que a criança possa beneficiar do envolvimento imediato e único de ambos os pais. Os nossos filhos merecem o mesmo que as crianças que nascem em Espanha, na Suécia ou em tantas partes do Mundo.
Mário Cordeiro
Pediatra
mario.cordeiro@netcabo.pt
































