Espaço Saúde – De Boca Aberta – FMI dentário

0
559

Não deixa de ser triste ver o estado atual do país. Entre notícias de crise, de juros que sobem, de preços que aumentam e de um futuro cada vez mais cinzento,  será que ainda existe vontade de sorrir?
Gosto de pensar nestes paralelismos e quando tento imaginar a razão ou as razões que nos fizeram chegar a esta situação, tento, como muitos, a culpar o sistema. É verdade, fomos acreditando numa classe politica mais solipsista do que socialista, numa classe politica mais interessada no seu bem-estar no que no bem-estar social.

Fomos acreditando que esta abundância era eterna, que este pseudo bem-estar era verdadeiro e que poderíamos infinitamente recorrer à ajuda dos “amigos” bancos. No da linha, a realidade é bem diferente do que tínhamos imaginado, nem os políticos, nem o sistema, nem os bancos, nada nos ajuda quando tudo parece ruir…
Vejamos os argumentos do dia: tendo em conta as opiniões de diversos especialistas, Portugal tem um mercado laboral pouco flexível, uma administração pública burocrática e ineficiente, um regime fiscal demasiado complexo e maus indicadores macroeconómicos. Por outro lado, parece que os principais obstáculos à liberdade económica em Portugal são o peso do Estado na economia e as leis laborais.
Mas a pergunta impõem-se: será que a culpa é apenas da crise mundial? As opções políticas foram feitas em Portugal, pelos portugueses e com os portugueses.  Fomos nós que escolhemos políticos com uma visão dirigista da economia, com uma capa de impunidade assustadora, moralmente e tecnicamente incompetentes. Pelo contrário, os países da Europa de Leste optaram por impostos baixos e outras medidas mais inteligentes. Vejamos algumas: a Eslováquia, adotou uma flat rate de 19%, a Lituânia tem um imposto sobre os lucros das empresas de 15% e a Letónia não cobra impostos sobre os lucros não distribuídos. Nós por cá, optámos por programas politizados dirigidos por burocratas, como o sistema de projetos de interesse nacional e o choque tecnológico.  A cárie em cima do dente dá pelo nome de impostos  elevados (25% sobre os lucros das empresas)…
Resumindo, estamos assim, sabemos porquê, mas arranjamos sempre culpados e pouco fazemos para realmente alterar o rumo das coisas. Estranhamente ou não, passa-se algo semelhante com a nossa saúde oral. Acreditamos que o bem estar da boca (leia-se ausência de dor) é um estado eterno e duradouro. Quando as coisas acontecem, uma dor de dentes, um dente fraturado, uma gengiva que dói ou um dente com mobilidade, culpamos a genética (já os meus pais tinham maus dentes) culpamos o azar (tenho um azar de ter dentes fracos) ou culpamos os não culpados (este mau hálito é do estômago). Depois atua-se ou deixa-se atuar com politicas de resolução imediata, quase sempre, dispendiosas e com uma durabilidade nada convincente. Neste cenário, existem também aqueles que sempre  acenam com soluções tecnologicamente avançadas, “simplexes” mas muitas vezes bem complicadas. Quantas vezes nos preocupamos realmente com a sucessão de cáries que vão aparecendo? Nunca questionámos essa cronicidade?
O futuro da saúde oral constrói-se não se remenda. Não podemos continuar a creditar que o futuro são os tratamentos maravilha, tendo como base um estado de doença que nos acompanha ao longo da vida.  Os principais microorganismos responsáveis pelas doenças orais são muito vulneráveis ás medidas de prevenção. Logo, um conjunto de atitudes bem delineadas e definidas são suficientes para controlar as principais doenças orais. mas para isso precisamos de uma atitude, precisamos de acreditar e, principalmente, precisamos de querer. É esta importância que cada um de nós dá a determinadas coisas (saúde oral, politica, ambiente, etc.) que vai definir o futuro. Um futuro de boca aberta ou bem fechada de vergonha…

- publicidade -

Mário Rui Araújo
mra@meo.pt

- publicidade -