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Se sonha um dia ir fazer mergulho á séria nas Berlengas, saiba que tem de ter uma óptima saúde oral!
O mergulho desportivo depende, na maior parte das vezes, de uma fonte de ar com forma de bilha e cheia de ar comprimido. Essa garrafa fornece para a boca do mergulhador, o ar indispensável para alguns momentos de puro divertimento.
O regulador que controla a pressão do ar e fica colocado na boca do mergulhador de forma a ficar bem seguro e a criar uma barreira estanque entre os lábios e os dentes. Uma incapacidade dentária que não permita segurar este regulador, pode ser impeditiva de um mergulho com garrafa.
São três as principais categorias de problemas dentários que podem influenciar esta actividade.
A primeira, as barodontalgias ou barotraumatismos (embora este termo possa ser usado para outras áreas do corpo, pulmões, etc.) são dores de dentes causadas pelas mudanças de pressão. Se nos lembrar-mos da lei de Boyle (à medida que a pressão aumenta, o volume diminui e vice-versa), podemos então perceber que, se existirem cavidades nos dentes, estas vão diminuir o seu tamanho à medida que a profundidade aumenta. À superfície a pressão atmosférica é, como o próprio nome indica, de uma atmosfera, no entanto, a 28 metros de profundidade, uma cavidade num dente deve estar reduzida a três quartos do seu tamanho à superfície. Por sua vez, ao subir, essa cavidade vai novamente aumentar os três quartos do tamanho. A este processo chama-se barodontalgia.
As condições mais comuns que podem levar o ar para dentro dos dentes são: cáries , restaurações (tratamentos) defeituosos , abcessos periodontais, alterações nos seios maxilares, lesões pulpares e dentes em tratamento endodontico (dente a ser desvitalizado).
As coroas de porcelana são também afectadas e podem rachar em mergulhos relativamente pouco profundos, cerca de vinte metros de profundidade.
A segunda categoria de problemas que podem por em causa o seu gosto pelo mergulho são, os problemas musculares e da ATM (Articulação TemporoMandibular (articulação que nos permite abrir e fechar a boca). São muitos os mergulhadores que sofrem de dores de cabeça e dos músculos da face devido à força e ao tempo que estiveram a morder o regulador do ar durante o mergulho. A área de mordida destes reguladores é feita, normalmente, de neoprene ou borracha de silicone. É depois ajustada com uma forma que lhe permita adaptar-se aos dentes do mergulhador. Normalmente, as áreas de mordida estendem-se até aos pré-molares. Como o tempo médio de um mergulho pode rondar os quarenta a sessenta minutos, existe uma constante pressão sobre esta peça pela parte dos dentes e, consequentemente, dos músculos responsáveis pela mastigação. Esta situação é bastante cansativa mas, raramente, causa dores.
No entanto para os indivíduos que sofram de problemas na ATM, o cenário é completamente diferente e as dores, podem ser tão intensas de forma a impedirem uma pessoa de mergulhar. Aumentar a área de mordida do adaptador até aos molares é uma maneira de minimizar estes problemas. Os dentistas, por vezes, podem criar moldes de silicone específicos para uma determinada pessoa, individualizando depois o adaptador, de forma a diminuir o stress da articulação durante o tempo de mergulho.
A terceira categoria de problemas diz respeito aos desdentados totais ou parciais. Durante o mergulho, devem-se evitar usar as próteses dentárias. Nos desdentados totais esta é uma situação complicada. Existem adaptadores especiais, feitos individualmente para minimizar estas situações e permitir que o mergulho seja possível aos portadores destas próteses.
Podemos concluir que uma deficiente saúde oral pode ser incompatível com a prática do mergulho. Resumindo, é importante que todas as cáries estejam tratadas; que os tratamentos estejam íntegros e bem cuidados; as próteses fixas devem estar perfeitamente adaptadas e coladas; as lesões periodontais (gengivais) activas devem estar controladas e os tratamentos de canais devem estar todos terminados.
Bons mergulhos e boa viagem até ás Berlengas…
Mário Rui Araújo
mra@meo.pt
