Algumas vezes escrevi neste jornal sobre a pérola esquecida que são as Termas. Hoje venho falar-vos de outra jóia esquecida nas Caldas da Rainha: a ESAD. A primeira coisa que me chama a atenção nesta escola é o facto de ser extremamente bem cotada em termos de qualidade. Assim, seria de esperar que as empresas da região beneficiassem imenso por ter acesso direto a uma veia criativa. Ora basta conhecer superficialmente as Caldas para perceber que o tecido empresarial Caldense pouco ou nada se beneficia com a presença da ESAD nas Caldas.
A razão para isto é até bastante simples. Se nos perguntarmos quais são os maiores empregadores nas Caldas, imediatamente constatamos que se tratam do Centro Hospitalar, a Schaeffler, o agregado das grandes superfícies de retalho (Continente, Pingo Doce, etc..) e a Administração Pública e Local. Ou seja, nenhuma destas entidades se encaixa de uma forma clara naquilo que são as competências de um aluno da ESAD. No passado, ainda existiam as fábricas de cerâmica onde era claramente possível retirar benefícios das competências fornecidas pela ESAD. Contudo, por manifesta ausência de estratégia industrial, longamente perdoada pelo eleitorado, a verdade é que já nem os benefícios de um pequeno cluster cerâmico existem.
Bom, mas existe uma esperança. A única forma de contornar este problema é permitir que os jovens, que assim o desejem, possam tentar a sua sorte através do empreendedorismo. O grande problema é que, realisticamente, nenhum jovem acabado de sair de um curso na ESAD está em condições de lançar e gerir uma empresa. Primeiro porque não têm recursos e depois porque Portugal simplesmente não sabe formar grandes gestores. Nós somos um país de administração publica ao estilo Francês, onde formamos burocratas e não gestores. E isso leva-nos a um grande entrave, é que, no presente, as formações na área do empreendedorismo são dadas por formadores que não passam de burocratas, sem experiencia nem competências na arte de gerir empresas.
Por outro lado, a ausência de um mercado para o capital de risco é outro problema. Não temos a tradição de ter fundos de capital de risco para start-ups. Como resolver este problema? Na minha modesta opinião, a solução passa por uma entidade cuja missão, no passado, foi a de ajudar o tecido empresarial Caldense. O Credito Agrícola (CA) durante anos ajudou agricultores e pequenos comerciantes e foi bem-sucedido, em parte, devido à grande proximidade que tinha com os seus clientes.
Num contexto onde a finança está a mudar a um ritmo alucinante, onde as bitcoins ameaçam os bancos centrais, e a fintech ameaça roubar o espaço tradicional da banca, talvez faça sentido ao CA buscar no seu passado a inspiração para o seu futuro. Com quadros habituados a lidar com empresas todos os dias, e com outros quadros habituados a lidar com as incertezas dos mercados de capitais, de certeza que é possível reunir uma equipa capaz de selecionar e gerir um portfolio de startups. Oferecer orientação e angariar novos investidores. Na minha opinião, o CA está num momento-chave em que pode transformar uma ameaça numa oportunidade e lucrar ao mesmo tempo.
Nelson Alves
































