José Ribeiro
Professor de Políticas Públicas
Vivemos tempos de mudanças aceleradas. É possível que estejamos em plena 5ª revolução industrial, com a emergência meteórica da Inteligência Artificial e mais próximos do que nunca de uma singularidade tecnológica. De tudo quanto a indústria 5.0 poderá significar em termos de processos e de meios de produção, serão as alterações no nosso quotidiano que merecem mais antevisões e preocupações. Para além da costumeira ebulição: guerra e paz, criação e atavismo, como se o regresso ao passado fosse a única forma de salvar o futuro, não obstante as tecnologias que lhe vamos acrescentando. O jornalismo e os meios de comunicação têm igualmente sofrido inevitáveis transformações, submergidos nas novas redes de comunicação e na era da “pós-verdade” (nefando neologismo que legitima tudo na mesma medida em que tudo pode proibir). É claro que estas reflexões muito ecuménicas não impedem o mundo de arder, morrem inocentes, grassam fome, sede e pestes, acentuam-se desigualdades variadas e é bem possível que um vizinho sofra sem ninguém que o acuda ou que numa freguesia próxima apenas desejem ter um sistema de águas e saneamento. Com tantos gigabytes de informação com os quais somos bombardeados, como manter a sanidade, a perspetiva ou a simples ideia de não andarmos a segurar névoas? Quantos verificam notícias e fontes, ou se dão ao trabalho de historicamente e socialmente perceberem o que move milhões de pessoas? No entanto, rebentam sentenças e certezas acerca de tudo. Cresce em paralelo a voragem securitária com políticas que vão ao encontro destes medos, com promessa de votos por descansarem as mentes sensíveis a tanta propaganda. É mais fácil acreditar do que procurar a verdade. É muito mais fácil deixamos que as nossas crenças e medos ancestrais nos dominem. Neste ponto, chegamos ao 99º aniversário da Gazeta das Caldas. Quase um século a escrever a história do concelho e a inscrever-se, por direito próprio, nessa mesma história. É obra. Bem-haja a quem ainda lê, a quem ainda vê neste jornal, ou noutros, aproximações válidas à verdade, enquanto existirem, haverá esperança. Sabendo que, tal como defendeu Popper, o dogma é inimigo da verdade e descobrir o erro, admiti-lo é a forma de nos aproximarmos da verdade. Longa vida à GC, que possa continuar a ser a possibilidade de aproximação, de debate aberto e livre, de informação sem neologismos, entre tanta tecnologia digital, que possa ser ainda parte do chão que nos sustém. ■

































