Elogio da Imperfeição – A Oeste nada de novo

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– Devias mesmo escrever sobre a questão da mentira
– Achas?
– Acho. Sobre a atual banalização e banalidade da mentira. Do facto de ser “normal” alguém inventar qualquer coisa para se safar, para se auto promover. De se achar até que quem não mente é parvo e pouco esperto. Da omissão e a manipulação estratégica de informação… de como isto mina a confiança entre as pessoas… de ser cada vez mais normal ninguém acreditar em ninguém… de como “política” é quase um sinónimo de “mentira”…

– Pois… mas é muito difícil falar desse tipo de tema, sem cair num registo moralista e do tipo “dono da verdade”… o que é absolutamente insuportável.
– Podes fazê-lo através de histórias…
– Não estou inspirada… e além disso o Carlos deu-me o toque de que era bom eu escrever mais sobre coisas da cidade… de facto foi isso que me disseram quando me convidaram para fazer estas crónicas…
– Hum… não vou discutir isso agora… mas por acaso esta semana até podias escrever sobre o hospital e o anúncio das obras para ampliação das urgências… De que mais uma vez aparentemente se passam as questões de fundo para segundo plano… Olha… a propósito de políticas…
– Tens graça… sabes bem o que eu acho… Falou-se imenso da construção dum novo hospital para o Oeste e de como a estrutura actual, a trindade hospitalar, não responderia adequadamente às necessidades da região em matéria de cuidados hospitalares… Sabes?… O que me enerva não é tanto o simpatizar-se mais ou menos com a ideia de fazer um novo hospital versus o investir na estrutura tripartida do CHO… é o facto das discussões, os debates, as propostas, parecer que caem num saco roto em que depois ficam esquecidas e se vão tomando medidas avulso para tapar buracos. Em que se gasta dinheiro e se fica sempre mal servido… Porque é que não se faz uma avaliação destes anos de funcionamento do CHO com as unidades de Torres, Caldas e Peniche? Um estudo que permitisse avaliar em termos de qualidade de respostas e serviços e em termos de custos? Da relação custo/benefício? Mas um estudo que depois não fosse para ficar na gaveta porque não agradou a alguém. Todos sabemos que a Urgência está disfuncional… mas a questão estrutural mantém-se aparentemente em suspenso… como se fosse anormal discutir e decidir a resolução de problemas imediatos e reais, contextualizando-os numa perspetiva de médio, longo prazo…
– E?…
– E… não sei… só sei que houve imensos encontros e conversas sobre o tema… às vezes até parece que há um funcionamento perverso nestas coisas… quanto mais encontros e debates… quanto mais palavras se gastam, se dizem e se escrevem, menos interessam e menos são para ouvir e levar a sério…
– Tipo: “Eles falam, falam, mas não fazem nada”?…
– Não… acho que é mais do tipo: “Eles falam, falam, mas não ouvem nada”… infelizmente às vezes fazem e fazem mal…
– Mas não concordas com a necessidade de remodelação do serviço de urgência?
– Não se trata de concordar ou não concordar com as obras… Não concordo é que se façam sem ser enquadradas num projecto sobre o futuro do CHO, nomeadamente se sim ou não e, porque sim ou porque não à construção dum novo hospital para a região Oeste… mas parece que não… ou então até já está decidido mas nós não sabemos… infelizmente, a Oeste nada de novo.

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