Eleições? Ganhámos todos!

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Em jeito de balanço e olhando para os resultados das eleições do Québec do passado dia 4 deste mês, apetece-nos dizer que todos ganharam.
Como sucedia naquele antigo programa da televisão francesa que foi animado pelo saudoso Jacques Martin entre os anos de 1976 e 1998, no qual, depois dos pequeninos cantores debitarem as suas melodias, os próprios atribuíam os votos aos outros concorrentes, e no final, o animador distribuía largos sorrisos para todos, com votos de muitos sucessos numa hipotética futura carreira artística. Como sucede em todos os concursos, no final do programa havia que contar os votos de cada um e declarar um vencedor. Mas estranhamente, ou talvez não, para gáudio dos adultos e surpresa da pequenada, o número de votos atribuídos era sempre igual para todos os concorrentes, e, como não podia deixar de ser, todos eram declarados vencedores. Daí que o título do programa era obrigatoriamente: On a tous gagné (ganhámos todos).
Senão vejamos, o Partido Liberal do Québec, no poder desde 2003 era apontado pelas firmas de sondagens como o grande perdedor que se anunciava e que poderia até, na pior das hipóteses, vir a perder o estatuto de partido oficial. Isto aconteceria, se não obtivesse um mínimo de 12 deputados e 20% dos votos. Para o Partido Québécois (quebequense) independentista previa-se uma luta renhida com o recém-constituído CAQ, Coligação para o Futuro do Québec, por uma diferença que daria a um deles o direito de formar um governo minoritário.
Afinal todas as projecções se enganaram um pouco. Aquele que seria o grande perdedor, o PLQ obteve uma percentagem de 31,2% dos votos com 50 deputados eleitos. O novo governo minoritário da Província (será que um dia os media lusitanos deixam de nos identificar por Região, ou pior ainda, por Estado…) do Québec é desde o dia 4 de Setembro 2012, dirigido pelo Partido Quebequense, independentista, mas os 31,9% de votos aliados aos 54 deputados eleitos, tornam-no tão frágil, que dificilmente poderá levar por diante reformas que possam pôr em causa a estabilidade económica e social desta parcela francesa, deste grande país, maioritariamente anglófono. Mesmo a recém-criada CAQ se pode considerar vencedora destas eleições obtendo desde o primeiro ano da sua curta existência e do seu primeiro grande exame nas urnas, o estatuto de partido oficial, com todas as vantagens financeiras que isso implica, ao obter 27,1% dos votos e um total de 19 deputados.
E por último, até o pequeno partido de extrema-esquerda, QS, Québec Solidaire (Québec Solidário), igualmente independentista, conseguiu aumentar o seu número de deputados em 100%, ao passar de 1 para 2, e obtendo 6% dos votos nas urnas.
Infelizmente no entanto, a razão pela qual a globalidade dos órgãos de comunicação social do planeta se interessaram pelas recentes eleições do Québec não foram as eleições propriamente ditas, mas o triste incidente que aconteceu no momento em que a nova Primeira-Ministra provincial, senhora Pauline Marois, filha de um mecânico de automóveis, como gosta sempre de recordar, se preparava para fazer o seu primeiro discurso como chefe de governo. Nas portas traseiras da sala de espectáculos onde Pauline Marois se encontrava, um cidadão anglófono de 62 anos, conhecido pelos diversos problemas que causava regularmente na pequena cidade onde explorava há alguns anos, uma espécie de campo de férias, que oferecia viagens de pesca e caça, acabava de assassinar a sangue frio, um anónimo cidadão que o tentara impedir de entrar na sala. Um técnico de som de 48 anos, o senhor Denis Blanchette, pai de uma menina de 4 anos, e que trabalhava na altura no local, pagou com a vida, o facto de ter impedido a entrada na sala de espectáculos do cidadão Richard Henry Bain. Veio entretanto a saber-se que este indivíduo era possuidor de 22 armas de fogo, das quais 21 devidamente legalizadas nos registos oficiais das mesmas. Na altura do incidente tinha consigo 5 armas. Uma em cada mão e mais três guardadas na viatura pessoal. Esperemos apenas que, como tantas vezes acontece, não seja declarado mentalmente incapaz e acabe por beneficiar duma sentença bonbon, como por aqui se costuma dizer, sempre que algum assassino é declarado alienado mental, e consequentemente, não responsável pelos actos que pratica.

J.L. Reboleira Alexandre

jose.alexandre@videotron.ca

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