José Luiz de Almeida Silva
Ver na televisão os incêndios florestais que têm corroído o país nas últimas semanas, à distância no Oeste (litoral) mais frio e húmido, e ouvir as vítimas próximas mergulhadas no calvário dos mesmos queixaram-se de tudo e de todos, é um exercício de cidadania difícil e quase incompreensível.
Como é possível que a algumas centenas de quilómetros, nalguns casos a menos de uma centena, se seja poupado a tamanho infortúnio, perigos e prejuízos patrimoniais e ambientais? Penso que as gentes do Oeste, queixosas das temperaturas frescas e da ausência permanente da canícula, apenas bordejada por alguns momentos mais intensos, não têm consciência nem sabem agradecer totalmente esta benesse dos deuses ou a circunstância de se situar junto ao oceano e isolada pelas serras (Montejunto, Serra d´Aire e Candeeiros) em seu redor.
Com as alterações climáticas, recusadas por negacionistas populistas que face ao caminhar da desgraça também acusam todos pelos factos, como pelas mudanças na estrutura económica e produtiva das regiões, a situação tem vindo a piorar, em que com a proliferação e permanência dos novos media e das redes sociais, a situação se torna permanente e obsessivamente presente no nosso quotidiano.
Assistir às palavras de circunstância ditadas pelas vítimas desses incêndios, acusando autoridades, bombeiros e responsáveis pela proteção civil, por tudo o que lhe está a acontecer, esquecendo ou minimizando a ausência de prevenção de que são também responsáveis, é um exercício de desespero ou de egoísmo, explicável pelo medo e terror do fenómeno que vivem e que acham inexplicável.
Num tempo em que estudámos prospetivamente o fenómeno, desenhámos como ideal um país impossível que alterava drasticamente o seu perfil florestal e ambiental, e colocava em causa interesses económicos que preferem lucros de curto prazo. Dificilmente vamos vencer esta tragédia cíclica anual.

































