Educação materna e vigia infantil

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Joana Beato Ribeiro
Arquivista

Uma visita ao Lactário-Creche Rainha D. Leonor

No passado sábado, tive a felicidade de tomar parte na inauguração de uma exposição documental sobre o Lactário-Creche Rainha D. Leonor, assinalando o seu centenário. Por isso, e para vos convidar a visitar a Sala Dr. Mário Gonçalves no Hospital Termal, durante o mês de dezembro, hoje conto-vos o que aconteceria se, numa máquina do tempo, regressássemos ao passado e fossemos parar ao Lactário. Prometo que não enveredarei pelo romance histórico e, se tiver oportunidade de guiar-vos na exposição, indicarei os documentos onde podem comprovar todos os pormenores!

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Segundo os Estatutos e Regulamento Interno (1928), a sede do Lactário funcionava entre as 8h30 e as 19h. Até às 11h todas as crianças deviam ter tomado banho. As visitas ocorriam entre as 12h e as 18h. A partir de outubro de 1928, após a aquisição de um aparelho de raios ultravioletas para tratamentos, o horário alargou-se, encerrando às 22h. A distribuição de leite aos protegidos era feita às 10h.

Sabemos, pela Gazeta das Caldas, que o Lactário-Creche dispunha normalmente de 10 berços destinados a crianças pobres e/ou com situação familiar desfavorável até aos 2 anos, cuja entrada era aprovada pelo delegado de saúde e médico voluntário da instituição, Fernando da Silva Correia, e pela Direção. Além do médico, o pessoal do Lactário era constituído pelas regente, ajudante e servente. O médico, na consulta semanal, instruía-as sobre a assistência a prestar a cada criança; a regente era responsável pelo cumprimento dessas instruções e pela preparação e distribuição do leite, sendo auxiliada pelas restantes funcionárias.

Ao longo do dia, o Lactário recebia normalmente duas senhoras visitadoras, que se ocupavam da vigia e pesagem das crianças, assim como do seu cadastro e do das suas mães. O acompanhamento materno que, em especial, estas visitadoras prestavam, era facilitado pela presença das mães na instituição, já que, as que tivessem leite e a sua entidade empregadora permitisse, poderiam dar de mamar aos filhos a cada duas horas e meia. Na impossibilidade do aleitamento, era o próprio Lactário que distribuía o leite, de origem animal, para o que contribuía a fiscalização efetuada no Laboratório Municipal, ou em pó, que era adquirido à Sociedade de Produtos Lácteos, única concessionária da Nestlé. Este era distribuído em biberons adquiridos à indústria vidreira da Marinha Grande.

A vida do Lactário era também decidida pelos seus corpos gerentes: Assembleia Geral, Direção e Conselho Fiscal, havendo assembleias a 15 de maio e 18 de novembro. Estas ocasiões eram aproveitadas para celebrar o aniversário da instituição ou para prestar homenagens. Sendo o Natal também uma ocasião especial, era preparada uma festa para os mais novos, com animação e distribuição de roupas, brinquedos e doces. Momentos especiais podiam ser também aqueles em que o Lactário era distinguido com alguma visita, como a de dois médicos da Fundação Rockefeller em 1932.

Há pormenores que ignoramos, mas muitos outros podem ser conhecidos numa visita à exposição “Casas de Bem-Fazer”. Não percam a oportunidade de conhecer as “Máximas para as mães”, chocantes e talvez um pouco datadas, mas que nos permitem mergulhar numa época diferente!

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