E agora, José?1 : Pôr do Sol | Sunset

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José Ramalho
ator & marionetista

Em pleno estio é comum tropeçarmos em inúmeros Sunset, para dar um toque cosmopolita, como se usa dizer a propósito do Pôr do Sol, sejam os habituais fenómenos da natureza num fim de tarde, capazes de incendiarem com fotos, até à exaustão, a memória de qualquer smartphone ou sejam as ditas Party, Festas aboboradas com música e cocktails.
Para mim, pode ser um Moscow Mule. Fica a receita: 01 dose (50ml) de Vodka (russo) ou Horilka (ucraniano), 02 doses (100ml) de Ginger Beer, Gelo e 01 Lima.
Apesar da época ser a adequada para os Sunset acima referidos, é do Pôr do Sol que reza esta crónica de carácter estival e fora do universo local.
Está a passar na RTP1, em horário nobre, a série portuguesa Pôr do Sol, que vai na 2ª Temporada. Sou um entusiasta desta pérola do guionismo português, da excelsa realização e da irrepreensível representação de todas as atrizes e todos os atores, cujo trabalho resulta num registo de comédia sem cair na tentação fácil no uso de clichés.
A estrutura narrativa segue os caminhos habituais do universo das telenovelas.
Faz uso da ruralidade sofisticada, através da família rica, os Bourbon de Linhaça com os seus enredos e mistérios, e as relações sociais estratificadas, representadas pelos trabalhadores da Herdade Pôr do Sol, na região de Santarém, cuja principal produção é a Cereja.
A urbanidade é retratada, pela diversidade de ofertas da grande cidade, desde a vivacidade da redação da Revista que aborda o glamour da vida mundana, passando pela Casa de Fados, até às vicissitudes das novas formas de mobilidade citadinas dos Tuk Tuk.
Esta série de origem portuguesa revela a criatividade nacional, sem baixar a guarda, apelando ao espectador a um arguto sentido de desconstrução do óbvio, fazendo-nos tropeçar de modo cúmplice com o non-sense, que nas mais variadas personagens e situações, nos fazem apreciar a piada inteligente sem recurso aos facilitismos, mesmo quando convocam o cavalo de seu nome Testículo ou o cão Próstata.
A técnica de representação da equipa de atores, transporta um timing de comédia certeiro, que há muito não víamos numa produção nacional, atrevendo-me a considerar que esta série seja objeto de estudo para atuais e futuros profissionais do mundo da representação.
Podemos apreciar o trabalho de atores e atrizes, num cruzamento de gerações equilibrado com técnicas de actuação distintas, mas com uma vivacidade e sobretudo foco sobre a importância de cada cena, usando a essência, sem se perderem em excessos, fruto da Direcção de Atores e sobretudo da Realização.
O recorte da dupla Ivone (Carla Andrino) & Tó Mané (António Melo), donos da Gosma do Fado, a safadeza de Simão Bourbon de Linhaça (Rui Melo) na procura das mais diversas patifarias ou a soberba Gabriela Barros que dá corpo heterogéneo a três irmãs, são apenas referências que pecam por insuficientes, considerando a destreza e competência com que cada profissional da representação defende o seu papel.
Por tudo isto e muito mais, desafio a quem ainda não se deixou encandear pelo Pôr do Sol, que tire os óculos de Sol e se permita ir até à RTP Play onde podem ver todos os episódios da 1ª Temporada e dos que já foram emitidos na nova Temporada. Permitam-se ver e ouvir esta série portuguesa, sem qualquer juízo prévio e acompanhem com o vosso cocktail preferido.
A produção nacional merece e agradece! ■

 

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