A vida de estudante de Fernando da Silva Correia em Coimbra inicia-se no liceu; o período universitário é narrado em grande parte por uma personagem de ficção no seu romance “Vida Errada”. Luís Augusto tem muitas características suas e destacam-se episódios em que sabemos que o autor esteve directamente envolvido. A acção passa-se no início da segunda década do século XX, período em que frequentava Medicina e termina com a descrição da saída de um contingente militar para a guerra.
A ida do Orfeon a Paris, em 1911 mereceu um capítulo, de tal modo o acontecimento marcou a sua vida. Em grande parte, percorre o texto um profundo saudosismo e o romance, aparentemente ingénuo, mas com um final ardente, camiliano, que arrebata o leitor desprevenido, termina com a heroína a despedir-se, na Estação Velha, do seu herói Luís Augusto, que parte no contingente militar para a guerra.
“A gare estava cheia de gente, vinda com grande antecedência para poder ver… As familias de muitos esperavam-nos aí para lhes poderem dar os últimos abraços antes da partida… A máquina do comboio atirava ao ar, pela chaminé negra, rolos de fumo, como um fumador preocupado… O General de Divisão despedia-se dos oficiais. Começou o embarque e, enchida aos poucos aquela enorme colmeia; em frente de cada compartimento juntou-se um grupo, a dizer as últimas palavras aos que partiam. Os soldados, em pilhas, acumulavam-se às portinholas.”
Fernando da Silva Correia terá sido dispensado da mobilização para o exército numa primeira fase, o que lhe permitiu ponderar a possibilidade de vir a aceitar um convite para assistente de Medicina Legal. A meio de Dezembro de 1917 escreve ao Pai “(…) constou-me que tenho possibilidades de arranjar um bom lugar no C.E.P. em França ou em Inglaterra. Vou fazer todos os esforços para não perder a ocasião. Se fôr preciso até vou a Lisboa. O Sousa Gomes e o Vieira Ribeiro são da minha opinião e mexem-se no mesmo. Quasi tenho a certeza que me livro de ir para Africa.”
A mãe, Carlota Correia, aflita com a hipótese de mobilização do filho para a guerra, tenta demovê-lo, mas em Janeiro de 1918 confirma-se estar já em França. O teor das notícias familiares, sempre atentos aos jornais, era o habitual à época – saúde, noticias de amigos, o estado do tempo; de destacar referências a greves, a manifestações de apoiantes de Sidónio Pais e falecimentos de familiares durante a epidemia “pneumónica” sucedidos numa aldeia beirã interior, berço da família paterna, a Ruvina. Uma noticia curiosa sobre as Caldas, é mencionada pela mãe: “Os alemães têm ordem para alugarem casas, ainda estão bastantes no Hospital e muitos nos Pavilhões; fazem gymnastica aqui defronte, têm uma barra fixa ao pé dos eucalyptos. Tocam todos os domingos no Parque, tocam no anymatographo e ante hontem foram cantar à festa do Senhor dos Passos. Não perdem tempo”. Destaca-se ainda uma carta do amigo José R.[?], da Infantaria 22 (12.08.1918), estando em Alcobaça a gozar uma licença: “Já tenho 17 mezes de França mas ultimamente umas pitadas de gaz obrigaram-me a passar muito tempo no hospital e por isso ainda tenho de voltar para França.”
Maria Natália Correia Guedes
































