Dois novos hospitais para o Oeste? Mas porque não? São sobejamente conhecidas as carências de cuidados hospitalares públicos na região.
Estou a exercer em Caldas da Rainha há 35 anos e, desde sempre, me lembro das promessas de melhoria das instalações hospitalares. Em 1996, foi concluída uma primeira fase de ampliação do Hospital com novo Bloco Operatório e Serviço de Urgência. A segunda fase de ampliação (alargamento do internamento) passou a constituir uma etapa sempre esperada e sempre adiada. Surgiram então novas ideias: a construção de um novo Hospital de raiz. Foi com essa perspetiva, conforme se refere na introdução ao articulado do diploma, que, em 2009, foi criado o Centro Hospitalar do Oeste Norte. Seguiram-se negociações, movimentações políticas, propostas de localização (Alfeizerão, Alvorninha…) e lamentáveis guerras de alecrim e manjerona entre autarquias, especialmente entre Caldas e Alcobaça. Em 2012, com a junção do Centro Hospitalar de Torres Vedras, foi criado o Centro Hospitalar do Oeste (CHO). A lógica foi a de ganho de escala e da ‘racionalidade’ de meios, porém ninguém esquece a razia troikiana: redução do número de camas (encerramento do Hospital do Barro, eliminação do internamento no Hospital Termal, passagem do Hospital de Alcobaça para a esfera do Hospital de Leiria).
Depois de tanto almejar a ampliação do Hospital das Caldas, aderi à ideia dum novo Hospital e, depois da criação do CHO, ficou muito claro que essa estrutura funcional só fazia sentido na perspetiva da construção de um único Hospital para todo o Oeste, preparado para servir 300.000 habitantes. Por tal pugnei ao longo dos últimos anos. Depressa tive de conviver com o peso da desilusão ao verificar que, repetidamente, essa estrutura não fazia parte dos planos do Governo. Até o Plano 20-30 de Costa Silva deixa de fora o Oeste na previsão da construção de novos hospitais…
A pandemia COVID-19 veio mostrar, a par da reconhecida entrega dos profissionais de Saúde, a importância e a versatilidade do SNS, mas também as suas fragilidades. E ficou ainda mais claro aquilo que sabemos: a carência de estruturas hospitalares no Oeste, de que a inexistência de quaisquer camas de Cuidados Intensivos é o exemplo mais gritante.
Os planos europeus de recuperação económica fazem-nos acreditar em investimentos na área da Saúde, nomeadamente em estruturas físicas. Já antes da crise, a OesteCIM tinha em mãos a avaliação da necessidade dum novo Hospital.
Entretanto, quem primeiro defendeu a solução dum novo Hospital para o Oeste Norte propõe agora dois Hospitais para o Oeste. Refiro-me ao Dr. José Marques, administrador hospitalar de carreira, que, qual D. Quixote, tem sido um visionário.
A ideia não é absurda! Dois Hospitais permitiriam: melhorar a resposta aos concelhos de Alcobaça e Nazaré; fazer coincidir a área de influência desses hospitais com as áreas dos ACES (ACES Oeste Norte: Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Óbidos, Peniche e Bombarral; ACES Oeste Sul: Torres Vedras, Cadaval, Lourinhã, Mafra e Sobral de Monte Agraço) e proporcionar uma nova organização funcional de articulação entre os Cuidados Primários e os Cuidados Hospitalares com a criação eventual de duas ULS e uma maior proximidade de cuidados às populações; facilitar a aceitação política da localização dessas estruturas e a manutenção duma dimensão e escala adequadas (cada hospital dedicado a cerca de 200.000 h.) com a possibilidade de autonomia apropriada e/ou geminação organizacional.
Segundo alguns cálculos, a construção de dois hospitais representaria apenas um acréscimo de cerca de 30% de custos de investimento.
Esta é uma ideia a ser discutida e não creio que isso possa dar azo a atrasos ou criar obstáculos. Nunca a apresentação de várias soluções para um mesmo problema retardou ou obscureceu uma decisão. A menos que não se queira decidir…
Com base na minha experiência profissional e com os dados que possuo, reitero o que sempre tenho defendido: um único Hospital para todo o Oeste como solução mais racional, a localizar junto a uma rede rodoferroviária, por exemplo na área de confluência do IP6 com a A8, no concelho de Óbidos. Não deixo, contudo, de ponderar a solução de dois Hospitais…
A OesteCIM, apoiando-se em consultadorias, procura a melhor solução. Cá estarei para a apoiar, conquanto a mesma não corresponda à estagnação e à manutenção dum modelo esgotado. O tempo urge!
António Curado

































