Dois minutos – A saturação da Portela

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A evolução extremamente positiva do turismo português está a demonstrar as dificuldades do Governo no campo da estruturação das grandes obras públicas, particularmente, ao não dotar a tempo e horas o país com uma solução que evite a não aceitação de vôos por saturação no aeroporto internacional Gen. Humberto Delgado, como acontece actualmente. Quando fui autarca em Óbidos tive uma particular atenção a este aspecto até por força da ADRO, uma agência de desenvolvimento regional que na altura presidi em nome dos meus colegas presidentes de Câmara da região Oeste.
Há 15 anos atrás estávamos empenhados em evitar uma eventual saturação da Portela por estrangulamento. Defendíamos em 2003: “pode não ser em 2015 e ser em 2020, mas se as previsões de crescimento se efectuarem, mesmo que moderados, teremos nessa ocasião mais de 20 milhões de passageiros por ano e isso será incomportável”, escrevia no editorial da revista municipal RIO, explicando aos munícipes de Óbidos que a Ota não era nenhuma moda mas uma solução pensada desde 1969 e que seria a solução ideal pois daria a Lisboa e ao país um aeroporto internacional com capacidade para 50 milhões.
As previsões de 2003 pecaram contudo por defeito pois o crescimento foi maior dos que as previsões ditas moderadas e já atingimos em 2017 os 26 milhões de passageiros com muitos voos acima do limite recomendado no actual aeroporto. Ou seja, não temos os 20 milhões previstos para 2020, mas 26 milhões em 2017! As consequências deste crescimento têm sido enormes com a economia portuguesa quase a aproximar-se da meta europeia de crescer acima dos 3% e com um controlo do défice mais facilitado.

A primeira década deste novo século foi marcada por uma profunda e longa discussão na sociedade portuguesa sobre este assunto e resultou anos depois num anúncio do novo aeroporto internacional na Ota através do ministro Mario Lino, no governo de José Sócrates. Por incrível que pareça o mesmo ministro e o mesmo governo mandaram abaixo o seu compromisso político em poucas semanas e anunciaram um novo aeroporto a sul do Tejo. Os anos passaram, o tema saiu do debate político e um novo aeroporto não se fez. Nem a norte, nem a sul do Tejo. Ficámos como uma solução comedida, de menor investimento público e também de menor visão estratégica como o tempo e a economia nos vem provando.
Passado este tempo todo, optou-se por preparar a base área do Montijo como um futuro aeroporto complementar, de segunda linha, para aí drenar os voos que hoje ocupam o terminal 2 do aeroporto de Lisboa. Esta solução, na minha opinião muito discutível, apesar disso continua muito atrasada envolta ao que parece em estudos ambientais que ainda não estão concluídos e sem avançar por isso nos procedimentos administrativos de obra que são necessários e urgentes!
Falta de coragem política? Instabilidade na decisão? Timidez na visão? Creio que qualquer uma destas interrogações ou todas poderão ser feitas por qualquer português. Uma coisa é certa, quando lemos o que escrevemos e defendemos há 15 anos surge um reforço pessoal e interior das nossas convicções e também uma tristeza profunda pela qualidade da política e neste caso pela falta de visão num sector cujo crescimento está já claramente ameaçado e Portugal não pode ter medo de crescer e de aumentar a sua riqueza nacional.

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