Da pujante indústria cerâmica de outros tempos restam hoje poucos exemplos. O afamado comércio tradicional arrasta-se à espera de melhores dias numa agonia cujo fim depende mais do destino da nação do que da boa vontade local. O turismo, enquanto a cidade não passar de um imenso e infindável estaleiro, nunca poderá deixar de ser algo incipiente que se limita a vegetar à sombra do castelo de Óbidos. Do termalismo é o que se sabe… Infelizmente restam poucas bandeiras de que os caldenses se possam orgulhar, mas ainda restam algumas e a Educação é uma delas.
O desempenho das suas escolas do ensino básico e secundário levaram o concelho de Caldas da Rainha a atingir um lugar cimeiro que a todos deve encher de orgulho. Ao nível do ensino superior, são cada vez mais frequentes as boas notícias do trabalho que tem sido feito pela ESAD, particularmente na área do design. No que respeita ao ensino profissional ministrado nas nossas escolas e centros de formação também estamos bem.
Sabe-se que um dos fatores de atratividade de uma cidade ou região é a educação, podendo mesmo ser decisivo quando se trata de famílias que têm filhos em idade escolar. Por isso, todos nos devemos preocupar quando o nome de Caldas da Rainha é notícia nacional, não pelas boas mas pelas piores razões. É esse o caso, infelizmente, da ação inspetiva que a Polícia Judiciária está a fazer no grupo GPS, sendo este proprietário de duas escolas privadas do nosso concelho, o Colégio Rainha Dona Leonor em Caldas Rainha e o Colégio Frei Cristóvão em A-dos-Francos.
Há quem pense que, para evitar esta “má publicidade”, não se devia falar muito do assunto, mas essa não é a atitude correta.
Não se trata de questionar o projeto pedagógico dos referidos colégios e o legítimo direito de cada família escolher a escola dos seus filhos. Trata-se, antes de mais, de saber para onde tem ido o dinheiro dos contribuintes. Trata-se de averiguar se o financiamento destes colégios com dinheiros públicos, através dos famigerados “contratos de associação”, é ou não mais um triste exemplo das ruinosas PPPs em que os prejuízos ficam para o Estado e as rendas garantidas para os privados.
No que diz respeito à matéria criminal, deixe-se a Polícia Judiciária fazer o seu trabalho e, se houver prova, os tribunais que façam também o seu papel. No entanto, há um aspeto de natureza política ao qual os nossos órgãos autárquicos não podem ser alheios.
É conhecida a história da escola pública (sem ensino secundário) que era para ter sido construída e não foi, da oportuna proposta do grupo GPS para construir um colégio (com ensino secundário) no sítio onde a tal escola pública acabou por não ser construída, do posterior e progressivo esvaziamento da EBI de Santo Onofre e do risco de poder vir a acontecer o mesmo às outras escolas públicas (com ensino secundário) da cidade…
Por tudo isto, e também por uma questão de princípio relativa à boa utilização dos dinheiros públicos, é fundamental esclarecer se não há nem nunca houve nada de ilícito na presença do grupo GPS no concelho das Caldas da Rainha, tendo em conta que, nos termos da lei, os referidos contratos de associação com escolas privadas visam suprir carências da rede pública e não fazer-lhes concorrência.
Quando, antes das últimas eleições autárquicas, num evento promovido pelo PSD local, um grupo de professores dos colégios do grupo GPS se manifestou, ruidosamente e em bloco, declarando o seu apoio, pretendiam o quê? Favores de quem desejavam que viesse a ser eleito?
Como é costume dizer-se, «à mulher de César não basta ser honesta, também tem que parecê-lo». É esse o sinal claro que tem de ser dado.
Se a Educação é um dos poucos setores de que Caldas da Rainha se pode ainda orgulhar, não podemos correr o risco de nela deixar cair uma nódoa que nos envergonhe.
Edgar Ximenes
Distorções da rede escolar de Caldas da Rainha
- publicidade -

































