Descubra as diferenças

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Por estes dias decorre o Festival Internacional de Chocolate de Óbidos com o interesse e entusiasmo que trazem anualmente à vila medieval milhares de visitantes. Muitos acham discutível este modelo de promover a afirmar o território. A economia local, porém, não encontra razões de queixa. Um pico de negócio no final de inverno ou princípio de primavera, como é este ano o caso, é motivo de satisfação para muitos. Atenua o efeito de época baixa ou antecipa o início da alta, com efeitos na rentabilidade das lojas, da restauração, da oferta hoteleira, etc., e com reflexos visíveis também na empregabilidade. A indústria de eventos há muito que promove o destino Óbidos e alavanca fortemente a economia local. Se uma etapa do mundial de surf em Peniche traz os resultados anunciados recentemente na imprensa local, da ordem dos 10 milhões de euros numa única edição, imagine-se os resultados que os eventos realizados há 15 anos a esta parte em Óbidos têm trazido à região. Também existem alguns trabalhos académicos sobre estes resultados, infelizmente desconhecidos dos meios de comunicação social e do público em geral.
Entretanto em Caldas ensaiam-se tímidas tentativas e voluntariosas vontades de recuperar alguns eventos que em tempos foram autênticos ex-libris da cidade e da região. É caso para dizer que mais vale tarde do que nunca, como diz o adágio popular. Nem se percebe bem a razão por que este executivo teve de esperar pelo último terço do mandado para começar a inverter o que anterior há muito tinha malbaratado. A não ser a habitual hesitação e a crónica frouxidão com que a maioria local encabeça os projectos culturais que podem efetivamente transformar o território, e a vida dos munícipes em geral, para melhor. Seria caso para dizer, entrando um pouco no campo de uma companheira e crónica neste espaço, que entre as pulsões de emancipação e controle, a opção é sempre pelo controle, o que é muito revelador sobre as prioridades desta patusca e exausta maioria, mas que nem sempre é claro na percepção dos munícipes.
Entretanto anunciam também as edições mais recentes da imprensa local uma aproximação entre os executivos de Caldas e Óbidos. Também aqui foi preciso esperar pelo último terço deste mandato autárquico para a tal aproximação que para já não passa da manifestação de boas intenções, que como todos sabemos também enchem sítios tão pouco recomendáveis como o inferno. Quando se passar a uma fase mais activa espera-se que, no mínimo, as promessas produzidas a duas vozes, em tempo eleitoral e a bordo de uma bateira, vejam alguns resultados concretos no que aos trabalhos de dragagem da Lagoa diz respeito. Sobretudo tendo em conta a fraude que se passou com a última dragagem, aliás em tudo semelhante a todas as anteriores dragagens. Não chega que as autarquias reajam agora com indignação. É preciso que haja mudança de paradigma para uma lógica de dragagem permanente, como defendemos há anos. E que os autarcas queiram assumir as suas responsabilidades nesta matéria.
A edição deste ano do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos também serve de plataforma de promoção e divulgação da Lagoa de Óbidos. Tendo como tema a água, as emblemáticas esculturas em chocolate representam este ano todo o imaginário da Lagoa, em seis conjuntos escultóricos de grande beleza e qualidade artística, complementados por uma exposição de fotografia que revela a exuberância da sua fauna avícola.
Aos caldenses resta a esperança que com estes encontros bilaterais autárquicos haja alguma espécie de contaminação positiva e se aprenda alguma coisa, nomeadamente a transformar uma localidade num destino turístico.
Lino Romão
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