De Palavra em Riste – E assim se (não) fazem as cousas!

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Gazeta das CaldasHá muita forma de (não) fazer as coisas e há delas que nunca deviam ser feitas. Divulgada que foi a auditoria às contas da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, detectou-se um «buraco» de quase 200 mil Euros, o que faz suspeitar de fraudes contabilísticas, crimes tributários e apropriação indevida de dinheiros, tendo o relatório seguido para o Ministério Público. Não deixa de constituir uma triste ironia que estas irregularidades afectem precisamente um Movimento que se apresentou aos eleitores como defensor da ética e moralidade política que, em sua opinião, andariam arredios da postura e comportamento dos partidos, os quais, como é sabido e não será demais repetir, não são todos iguais. Como dizia o poeta Mário-Henrique Leiria: «Os Independentes, devido à situação económica e à outra, ficaram apenas pendentes»…

Por outro lado, o concelho de Caldas da Rainha tem vivido sob a influência de uma síndrome negativa cuja característica principal reside no facto de as acções essenciais para o seu futuro acabarem por ficar congeladas em pousio, a modos que num regime de nem para trás nem para diante, nem sim nem não, antes pelo contrário! E é assim que se (não) fazem as cousas…
Tomemos o exemplo do Plano Estratégico que vigorará até 2030: adjudicado em 2015 por 75 mil Euros + IVA à empresa do ex-ministro Augusto Mateus e recentemente anunciado, define 12 projectos estruturantes, sendo que apenas um (Reforçar o sector terciário e promover a sua diferenciação) é de execução a curto prazo, curiosamente com a previsão orçamental mais baixa. Dos restantes, um apresenta-se como de longo prazo (Desenvolver e inovar o sector primário, com enfoque particular na área agroalimentar) e todos os outros como de médio prazo. A previsão orçamental do investimento é indefinida, apresentada, genericamente, em cada uma das rubricas como podendo oscilar entre um e dez milhões de Euros, o que, convenhamos, representa uma enorme disparidade.
O Plano é um repositório de um conjunto de coisas de há muito exigidas e cuja presença constitui a confirmação plena de que continuam sem encontrar solução. É portanto o que se passa com a «reabilitação e reactivação das estruturas termais; projecto integrado de salvaguarda e valorização do património histórico e termalismo; reabilitação e ampliação do Museu de Cerâmica; valorização dos recursos naturais, nomeadamente da Lagoa de Óbidos, conclusão do PDM; concretização dos projectos integrados no Plano Estratégico; reabilitação do centro urbano, das entradas da cidade e das sedes de freguesia» e também «incrementar uma estratégia cultural para o CCC», o que comprova, por constatação contrastante, a justeza da crítica sobre a inexistência dessa mesma estratégia.
É infelizmente plausível que o destino deste Plano Estratégico possa vir a ser idêntico ao que cessou em 2013 apresentando uma percentagem de execução baixíssima, muito perto dos 0%. E é assim que se (não) fazem as cousas…
A segunda fase de desassoreamento da Lagoa, prometida desde 2014 e sucessivamente adiada, a ser resolvida nunca o será antes de 2019. No Centro Hospitalar as obras de ampliação das Urgências e da nova farmácia (que permitiria poupar cerca de 6000 Euros por mês, preço do aluguer dos contentores onde funciona há quase duas décadas) continuam sem arrancar. Na linha do Oeste, por não ser integralmente electrificada, subsistirão gravíssimos problemas. E assim se (não) fazem as cousas…
Poder-se-ia ainda juntar a este rol a situação do Hospital Termal e dos Pavilhões do Parque, porém o espaço disponível já não o permite.
Perante tudo isto, as perspectivas vão-se, de facto, estreitando como se estivesse entalada «a cabeça entre duas lousas» (parafraseando Gil Vicente), «pois assim se fazem as cousas». Ou não.

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José Carlos Faria
jcrffaria@gmail.com

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