Estou a iniciar esta crónica depois de tomar conhecimento que faleceu mais uma das vítimas graves dos últimos incêndios trágicos dos dias 14 e 15 de outubro. O número de mortos eleva-se agora para 45, havendo ainda vítimas graves internadas nos hospitais. Três dias depois de ter saído o Relatório da Comissão Independente sobre os incêndios de Pedrógão Grande e Góis em julho, que aponta falhas muito graves à Proteção Civil e a toda a estrutura de prevenção e combate a incêndios, a tragédia repete-se de novo em outubro, numa escala territorial muito mais alargada. O dia 15 de outubro foi mesmo o pior dia do ano, com um registo de 523 incêndios num só dia, desde o centro até ao norte de Portugal. Estes acontecimentos trágicos, sem precedentes na história democrática de Portugal, interpelam-nos profundamente como cidadãos e também abanam os próprios alicerces e estrutura do nosso sistema democrático. Qual o valor da democracia se o Estado democrático falha tão clamorosamente e não consegue proteger os seus cidadãos e os recursos territoriais endógenos de uma forma eficaz? O Estado tem por isso de assumir as suas responsabilidades, indemnizando as vítimas e definindo desde já novas políticas integradas, baseadas num conhecimento alargado e numa acção muito mais eficaz de prevenção e combate aos incêndios no futuro. O Estado tem por isso de assumir um compromisso muito concreto e articulado nesta matéria, desde o governo central até às autarquias locais. Só com a articulação entre o nível político central e o nível político local, tanto no planeamento como na acção, é que as políticas de prevenção e combate a incêndios poderão ser eficazes! Não é aceitável que os incêndios sejam um negócio e que, por exemplo, os meios aéreos de combate sejam privados. Os Portugueses não podem nem querem aceitar políticas de terra queimada!
Nas Caldas da Rainha, onde vivo e trabalho, também ocorreram incêndios que, felizmente, não fizeram vítimas. Em larga medida devido à acção eficaz e abnegada da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha! Cabe aqui um parêntesis para referir que, muito em breve, os Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha irão iniciar o seu tradicional cortejo de oferendas, sendo merecedores de todas as dádivas que os Caldenses lhes queiram endereçar.
Mas, apesar de não ter havido vítimas, isso não quer dizer que não tenha havido problemas no combate aos 6 incêndios em simultâneo do passado dia 15 de outubro no nosso concelho das Caldas da Rainha. Segundo o depoimento do comandante dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha, Nelson Cruz, o incêndio da Serra do Bouro teria sido facilmente resolvido “(…) caso tivesse sido possível actuar de início com os princípios de triangulação de meios, mas, como havia fogos em todos os concelhos, não foi possível fazer essa triangulação”. Isto é, o combate ao incêndio arrastou-se no tempo porque o plano de emergência previsto falhou. Não havia plano B! Isto remete para uma das lacunas do combate aos incêndios no nosso concelho: não existe um “Plano Municipal de Emergência das Caldas da Rainha” (PMECR) aprovado e eficaz! Tal como ainda não existe um “Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios” (PMDFCI) aprovado e eficaz, tal como já referi na crónica de 2017/09/01. É por isso urgente a aprovação pelo município das Caldas da Rainha destes dois instrumentos fundamentais da prevenção e combate aos incêndios no nosso concelho! É desejável que tal aprovação ocorra até final do presente ano, para que no início de 2018 se programem os investimentos e se desenvolvam as acções previstas antes do início do verão. Para bem da nossa segurança e da integridade do nosso território!

































