Caldas da Rainha e Óbidos têm uma história comum de pelo menos 5 séculos. Aliás, as Caldas foram inicialmente designadas e conhecidas como Caldas de Óbidos. Foi a criação do Hospital Termal pela Rainha Dona Leonor e a consequente fixação da vida económica e social à sua volta, que levou ao desenvolvimento de um importante centro de mercado à escala regional e à autonomização da cidade e concelho das Caldas já da Rainha tal como hoje a conhecemos. De alguma maneira, Caldas da Rainha é o pólo urbano complementar de Óbidos, tendo-se desenvolvido como uma cidade mais renascentista, aberta e moderna, que ofereceu continuidade e sentido à longa história muralhada da vila de Óbidos, de origem árabe e medieval. Por causa disso, as Caldas da Rainha cedo se constituíram como um centro urbano mais atrativo para a fixação de famílias e actividades económicas, tendo hoje uma população concelhia que é quase 5 vezes superior à população do concelho de Óbidos.
De um ponto de vista histórico e cultural, Caldas da Rainha e Óbidos estão portanto indissociavelmente ligadas entre si, partilhando além disso recursos territoriais e paisagísticos muito relevantes para o seu futuro. Um desses recursos é obviamente a Lagoa chamada de Óbidos. A Lagoa é na verdade uma laguna, uma zona húmida de transição ecológica entre o meio terrestre e marinho, constituída por um sistema lagunar de grande riqueza animal e vegetal, um lugar único de biodiversidade articulada com o ambiente e a paisagem! Um lugar único como a Lagoa deve ser objecto de cuidados especiais na sua gestão e desenvolvimento, não só ao nível ambiental mas também social e económico. As políticas de nível nacional, porque a Lagoa é um recurso de importância nacional, devem ser articuladas com as políticas ao nível municipal local. Os municípios das Caldas da Rainha e Óbidos, que administram localmente as margens norte e sul da Lagoa respectivamente, devem fazer tudo para aproximar a vida e as actividades das suas margens, criando condições para a fixação de actividades económicas que respeitem o ambiente e a biodiversidade. E há muita coisa por fazer! Não é só o problema central do desassoreamento da Lagoa que está aqui em causa, mas também a criação de um plano intermunicipal de desenvolvimento integrado das suas margens!
Durante a campanha autárquica de 2013 os candidatos do psd passearam-se de bateira pela Lagoa, fazendo juras de amor eterno e promessas de articulação política das suas acções, mas, passados 3 anos, muito pouca coisa se vê feito. Na margem sul da Lagoa, os problemas de insolvência financeira dos inúmeros “resorts” instalados, criaram uma situação de ameaça ambiental e económica que põe em causa a própria identidade da Lagoa como valor único. Na margem norte, há problemas crónicos ligados à má gestão e funcionamento da ETAR, que levam a que parte das águas residuais entrem na rede pluvial que descarrega na Lagoa. Tanto na margem norte como na margem sul da Lagoa há um problema evidente de ordenamento e articulação urbanística, que muito prejudica o seu desenvolvimento integrado. Os problemas da Lagoa são muito mais complexos do que os problemas do seu desassoreamento, embora estes sejam centrais para o seu futuro. Os problemas da Lagoa são também problemas políticos de articulação concertada entre as Caldas da Rainha e Óbidos!