A Revolução dos Cravos do dia 25 de abril começou nas Caldas da Rainha no dia 16 de março de 1974! A marcha dos cerca de 200 militares do Regimento de Infantaria 5 sobre Lisboa é um acontecimento da maior relevância histórica, não só para a cidade e concelho das Caldas da Rainha, como também para Portugal e a Europa. Foi nas Caldas da Rainha que começou a marcha decisiva de Portugal para um país livre e aberto ao mundo, marcha essa que teve um dos pontos altos com a sua entrada na Comunidade Europeia em 1986. Em 1974 já se tinha esgotado a esperança das famílias em dias melhores, desencadeada por alguma abertura da chamada primavera marcelista. Portugal era de novo um país amordaçado, como o caracterizava Mário Soares, sem soluções políticas, não só para a questão colonial como também para os seus problemas de desenvolvimento.
Estes acontecimentos históricos marcaram fortemente a minha formação pessoal, social e política. Lembro-me bem dessa época, nomeadamente do entusiasmo que levou os meus pais a irem a Lisboa de propósito, apenas para comprarem o livro de António Spínola “Portugal e o futuro”. Os meus pais eram pequenos comerciantes que ansiavam obviamente por maior abertura política do regime. Recordo também, como provavelmente muitos outros Caldenses, essa manhã de 16 de março de 1974 nas Caldas da Rainha, nomeadamente a minha estupefação ao dar de caras com 2 tanques ‘Chaimite’ estacionados no Largo do Hospital Termal quando ia para a escola. Nessa época, a escola era nos Pavilhões do Parque, secção local do Liceu Nacional de Leiria. Naquele dia, com polícias de choque à porta…
Passados 43 anos, quando se adensam na Europa algumas núvens negras do nacionalismo e da xenofobia, é lamentável e causa estranheza o facto de não haver mais reconhecimento público nas Caldas da Rainha pelo 16 de março. Passados 43 anos ainda não há um monumento, apesar das promessas sempre adiadas da Câmara Municipal. É certo que, nos últimos anos, tem havido uma vontade de evocação do 16 de março, com palestras, debates e materiais pedagógicos, mas é preciso fazer mais e melhor. É fundamental, em nome da abertura e transparência democráticas, que a Câmara Municipal preste mais informações aos Caldenses, não só sobre o ponto da situação do projecto do monumento ao 16 de março, como também sobre o estudo do seu enquadramento paisagístico e urbanístico. Recordo que eu próprio, em 2014, sugeri ao actual Presidente da Câmara a implantação de um monumento ao 16 de março frente ao quartel, por entender que tal monumento poderia ser um instrumento útil de qualificação urbanística desta entrada nas Caldas da Rainha. Verifico que a ideia foi acolhida, mas tudo anda muito devagar e a informação disponibilizada é muito escassa…Por isso, é urgente promover um debate público mais alargado sobre esta matéria, nomeadamente agora que se começa a discutir, já com um atraso significativo, a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), com um orçamento de 6,2 milhões de euros. O 16 de março deverá ser no futuro, não só um símbolo europeu da história da cidade, da região e do país, como também um instrumento de requalificação urbanística da entrada sul das Caldas da Rainha e da sua ligação simbólica a Lisboa! O 16 de março é um tema estratégico para o nosso futuro!
































