Celeste Afonso
diretora cultural executiva
Em 2027, Évora vai ser Capital Europeia da Cultura.
Mas o processo de selecção da cidade portuguesa começou, formalmente, em Novembro de 2020, quando o GEPAC lançou um convite à apresentação de candidaturas e, um ano depois, validou Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Leiria, Oeiras, Ponta Delgada, Viana do Castelo e Vila Real como cidades candidatas.
Estas doze candidaturas da fase de pré-selecção correspondiam a doze territórios alargados (distritos, comunidades intermunicipais, regiões), cobrindo (quase) todo o território nacional, continental e insular.
Um dos critérios de elegibilidade era as cidades apresentarem uma estratégia cultural que abrangesse a ação CEC e incluísse planos para suportar as atividades culturais para além do ano do título, o que levou cada cidade a elaborar um Plano Estratégico Municipal de Cultura a 10 anos. Este foi o primeiro passo para o envolvimento das comunidades. De norte a sul e ilhas, estas cidades começam a trilhar caminhos colectivos por meio do diálogo e do envolvimento da comunidade como um todo, num exercício de cidadania cultural. Esta primeira fase permitiu o mapeamento de todo o ecossistema cultural e o reconhecimento dos seus pontos fortes e pontos fracos. Para a definição da estratégia cultural da cidade, realizaram-se inquéritos, promoveram-se focus group nos domínios da Cultura, Educação, Economia, Turismo, Ambiente, Urbanismo, Ciência, e reuniões e debates e congressos … Constituíram-se Conselhos Municipais de Cultura.
Foi um processo que, parafraseando o Cardeal Tolentino Mendonça, permitiu a estes territórios “redescobrir o bem comum. As cidades pensaram-se como um projeto que diz respeito a todos e faz de todos protagonistas da experiência social, configurada necessariamente como uma experiência de hospitalidade e de colaboração.”
Este é o primeiro momento que marca a alteração do paradigma cultural, em Portugal, e é o agente catalisador da construção de um processo participativo. É também um movimento sem precedentes, em que as cidades se pensaram e se projectaram no futuro a partir da cultura.
Concluído o processo de selecção CEC, vale a pena questionarmos: os processos de desenvolvimento estratégico estruturados a partir da cultura alteraram o paradigma da política-cultural? Que país somos hoje, depois desta “revolução”? Qual é o impacto na região e no país das propostas de uma cidade que se pensou e transformou a partir da cultura e da sua identidade? ■

































