Mais um livro de pequeno formato, 18,50×13 cms, da autoria de Alberto Pimentel, com o título de “Fotografias de Lisboa”, editado pela Livraria Universal de Magalhães e Moniz Editores, situada no Largo dos Loios, nrs. 12 e 14, no Porto.
É um conjunto de curtos artigos dedicados a locais e personagens lisboetas, e entre eles o autor oferece-nos um texto sobre Rafael Bordalo Pinheiro. É curioso saber que este livro editado em 1874, tinha Bordalo 28 anos – estava no início da sua carreira – era este já merecedor de palavras elogiosas como as que Alberto Pimentel lhe dedicou.
Fotografias de Lisboa – Alberto Pimentel – 1874 | D.R.
Postal – Estatueta Rafael
Bordalo Pinheiro
– Fábrica A. Belo – 1900 | D.R.
Alberto Pimentel [1849-1925] passou a sua vida a escrever: entre romance, biografias, memórias, teatro, poesia, política, contos, novelas, traduções, é responsável por mais de 120 títulos, e isto sem contar com a sua participação em jornais. É obra!
Vamos lá então conhecer o seu pensamento sobre Bordalo:
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“Bordalo Pinheiro é o que com propriedade se pode dizer um artista, – por fóra e por dentro. Bastos e longos cabelos negros, olhar vivo e incisivo, feições distintas, desembaraço elegante, animação verdadeiramente peninsular. Sobre os abundantes cabelos o chapéu, que não denuncia – ainda bem! – uma cabeça espanhola, mas que revela um rapaz que tem passado por Espanha. Era realmente indispensável que um homem, que nasceu fadado para caricaturar os outros, não tivesse por onde ser caricaturado. A natureza deve ter ficado contente com Bordalo Pinheiro. Para lhe fazer a caricatura só reputamos apto, olhando à roda de nós, um único homem… Bordalo Pinheiro. Como porém ele não pode bipartir, o seu lápis triunfará sem competidor. Bordalo Pinheiro é o jornalista da gravura: faz o noticiário de Lisboa com dois traços, o que lhe permite acompanhar os acontecimentos. Ela conta a lápis, censura a lápis, louva a lápis, o que dá a entender que o seu jornal é uma … lapiseira. E é. Com duas retas faz a caricatura d’um homem torto, e com duas curvas historia retamente todos os episódios do Chiado, de S. Carlos e do Martinho. Anda só, – com a sua carteira. Nenhum prelo, nenhuns caixotins. Vai a lapiseira, e é tudo. Portugal inteiro aplaude os seus folhetins desenhados, e a sua popularidade está em que, não sabendo toda a gente ler, quási toda a gente vê.”